quinta-feira, 26 de novembro de 2009

O Natal e as memórias com vida própria


Rubem Alves já disse que existem memórias que têm vida própria. Estas vêm quando elas querem, podem ficar guardadas na mente sem que a gente saiba delas e, de repente, elas aparecem.
Ontem à noite, uma dessas memórias se manifestou, pela primeira vez. Ficou guardada por exatamente 11 meses e ontem ela decidiu despertar e fazer um certo momento revivier.
Como todos sabemos, mais um ano termina e já falta apenas um mês para o Natal. E como vários também sabem, eu sou louco por Natal. Esse ano eu achei que tinha parado de gostar de árvores de Natal. Cheguei a acreditar nisso. Mas, de repente, eu percebi que continuo podendo ficar muito tempo parado, apenas olhando uma árvore de Natal. Bobeira minha.
Ontem à noite, numa conversa, falamos sobre os planos para as Festas e eu falei de como eu acho que o Natal tem que ser passado com pessoas que o comemoram de verdade, lembrando que ele significa algo real.
E foi nesse exato momento em que uma memória do Natal passado veio. Eu lembrei que na noite de Natal nós fizemos um pequeno jantar, minha mãe, meu pai e eu, e, depois que terminamos de comer, eu com meu pai sentamos na varanda, e ficamos batendo papo, sem falar muito coisa, não lembro dos assuntos. Estava quente, mas tinha um vento bom e a rua estava em silêncio, pois já era tarde, numa cidade do interior.
E, de repente, no meio da conversa, os sinos da Matriz começaram a tocar. A gente apenas disse: já é Natal!
E eu senti uma grande felicidade.
E ontem, ao lembrar disso, eu consegui escutar aqueles sinos, eu consegui sentir o vento, eu consegui lembrar do sorriso que eu sorri pela chegada do meu dia preferido do ano.
Esse ano, quando os sinos tocarem anunciando o nascimento do Rei, eu vou sentir muito a falta de de alguém naquela varanda, assim como eu vou sentir muita falta de alguém naquela mesa do jantar.
Mas assim como no primeiro Natal, haverá mais uma estrela no céu pra brilhar.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Espetáculo de hoje: a vida


16:41 de um dia normal.

Menos normal porque é feriado, mas completamente normal porque estou no trabalho.

E as horas passam, e se sucedem, e vão fechando seus ciclos eternos.

E eu vejos as horas passarem e me desespero. Elas são lentas, mas andam muito mais rápido que eu. Muito mais.

Não gosto de ver a vida passar, em suas frações de 60 minutos cada, e não conseguir acompanhá-la. Sinto que ela se vai sem que eu possa alcançá-la.

Vive um alguém qualquer enquanto o real eu espera o despertador tocar pra acordar. Mas o despertador não toca.

E cada minuto traz um algo novo.

Sabe quando você tem um pesadelo, sabe que está dormindo e não consegue acordar?

Sinto isso. Sinto que tento gritar e o grito não sai, e ninguém consegue ouvir.

Mas será que não vivem todos assim? Não sei. Penso que talvez sim, talvez não.

Acho que as pessoas fingem bem.

Viver é mesmo atuar num palco.

Mas eu queria apenas um palco de teatro mesmo.

Apenas.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Jabuticaba


Vou fazer uma consideração que pode parecer boba por um lado e dramática por outro. Mas não é pra ser nenhum nem outro. É apenas uma consideração mesmo.

Ficar grande é um saco. Seria bom ser criança pra sempre, mas não é assim que funciona. E por que é bom ser criança? Bem, todos nós sabemos que há inúmeros motivos e eu não vou falar sobre eles. Vou só escrever sobre o que pensei em escrever.

No twitter - aquela ferramenta péssima e viciante de comunicação - o Felipe Andreoli de vez em quando posta sobre ir à casa da vó dele. Vai lá despedir, vai lá dizer oi, vai lá almoçar de surpresa. Enfim, ele vai à casa da vó dele.

E há alguns dias estive pensando nisso. Que quando a gente é criança, no geral a gente tem mais gente de gerações anteriores na família. E o tempo vai passando e essas pessoas vão fazendo a grande passagem pra um lugar onde a gente não vai mais visitar.

Não se escuta uma pessoa um pouco mais velha dizer: fui à casa da minha vó comer pé-de-moleque no domingo. Mas é comum ouvir uma criança dizer isso (Claro que a parte do pé-de-moleque só lá no interior). Também é incomum alguém mais agé dizer que foi pra roça com o avô, ou pro jóquei, ou pra praça, ou pra missa. É natural, e se torna normal.

Acho que, de repente, percebi que das gerações anteriores, agora só estão presentes minha mãe e sua mãe - uma avó, por razões simples e não problemáticas, com quem eu não tenho tanta proximidade. Parece que as raízes ficam mais fracas, ou ao menos mais difíceis de se enxergar.

Parece que, de repente, eu virei adulto. E o estranho é que o futuro agora faz questão de querer ser mais importante que o passado. Fazer o quê, né?

Acho que estou com saudade dos pés de jabuticaba da casa dos meus avós...

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Algumas considerações


"Jerusalém, que bonita és..."
Sempre que venho à casa da minha mãe, fico olhando muito um quadro novo que colocamos na parede. É um quadro simples, de uma foto que ela trouxe recentemente de Jerusalém.
Mas eu posso ficar olhando a figura por horas. Há tanta coisa ali, tantas pessoas, tantos anos, tantas lembranças, algumas minhas, outras contadas por outros. Lembranças.
Nada mais me vem à mente do que uma vez que estive lá na véspera de Natal, rapidamente antes de ir a Belém. Jerusalém naquele dia brilhava inteira. As pedras brilhavam que nem ouro. E o clima estava assim como hoje, com um ventinho frio, mas o dia aceso. O sol vivo.
Os ventos frios sempre trazem lembranças. Sempre.
E isso me fez lembrar de outra coisa, uma música.
Há uns 10 anos alguns tios meus e uma prima foram pra Israel passear. E lembro que na época trouxeram uma fita K7 de um grupo que cantava uma música linda, chamada 'Aleluia'. Me disseram que era uma música que tinha ganhado um festival importante. E eu escutei essa música uma vez apenas.
Há 2 anos, em Israel, perguntei um dia para minha professora de hebraico sobre tal música e ela me indicou que música era pra eu procurar. Impressionante quando eu a ouvi: eu poderia contar toda a melodia da canção, 8 anos depois de tê-la ouvido uma vez. E espero que a memória dela fique eternamente na minha mente. É uma das canções mais bontias que já ouvi. Bonita pela simplicidade talvez. Não sei.
Eu só sei que dá pra lembrar de inúmeras coisas olhando uma foto de Jerusalém.

Cara B
Comprei antes de viajar um CD pra trazer. Eu compro poucos CDs, pois acho um pouco caro, mas acho o máximo comprar um álbum de alguém, comprar o trabalho que a pessoa fez e tê-lo em casa. Penso assim também dos livros.
E tem uns discos que são inacreditáveis. São obrigatórios.
Comprei Cara B, do Jorge Drexler. O cara é ótimo, o CD também. O show deve ter sido pra quem viu.
Deixo um trecho de uma canção:
"Quien no lo sepa ya lo aprenderá deprisa:
la vida no para, no espera, no avisa..."

A vida das coisas
Hoje em dia temos um discurso sério sobre como é incorreto dar valor demais às coisas. E eu concordo com esse discurso. As coisas não são, a princípio, nada. Não valem nada. São passageiras demais para valerem alguma coisa.
Mas estou aprendendo sobre como ficamos impregnados nelas. Como deixamos pedaços de nós espalhados pelos móveis, prédios, sons, sapatos, perfumes, comidas, silêncios.
Há um certo vazio no espaço que ocupo ultimamente, quando viajo para visitar família. E é curioso ver como as coisas trazem memórias. As coisas falam, assim como nós. Talvez mais que nós. Gritam, às vezes.
Talvez devamos dar mais valor a elas. Valor num bom sentido.
E hoje escutei um papo de amanhar começar a recolher as roupas que trazem lembranças, e dá-las. Nada mais justo. Mas nada mais triste. Tudo aquilo que esteve mais em contato com quem se foi agora também se vai. E logo vão outras coisas, e outras, e outras...
Mas as lembranças ficam.
Enquanto essa coisa que somos nós durar, elas durarão.
Nós somos também todos os outros em nós.

sábado, 26 de setembro de 2009

Vespa

Hoje estava andando de carro com minha mãe quando passou ao nosso lado uma Vespa cinza bonita e eu comentei o quanto queria uma vespa pra mim. Realmente gosto do visual descontraído delas. Acho que parecem dizer que não ligam pra ninguém. Todos os outros carros perdem a graça perto delas, que passam lentas e individuais sem fazer comentários.
E então minha mãe disse: "você andou tanto de vespa quando era criança."
Ela comentou que saíamos os quatro, meu pai, ela, eu bebê entre os dois e meu irmão ainda pequeno de pé na frente. E íamos todos ao supermercado e ainda voltávamos com algumas sacolas naquele meio de transporte que deveria ser pra uma pessoa e, naquelas ocasiões, servia para quatro. E completou: "que tempo bom aquele."
E eu senti uma saudade tão grande de um tempo que não lembro. Tão grande.
Talvez todas as vezes que eu vejo passar uma Vespa é isso que vejo passar, mesmo sem lembrar. Talvez por isso sempre sinta um clima nem quente nem frio quando passa a tal moto, uma sensação de liberdade, de passado, de feriado. Eu nunca penso no futuro ao ver uma Vespa. Nunca penso em velocidade, nunca penso em nada. Só penso no momento.
Momento que passa voando...

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Des images


Está em São Paulo uma pequena e boa exposição do fotógrafo Henri Cartier-Bresson.
É incrível como algumas pessoas tem a habilidade de transformar o mundo em imagens, ou sons, ou movimentos ou silêncios. E ele tem.
Porém, capacidade de olhar todos nós temos. Não apenas de ver, mas de olhar.
Ele disse que "Fotografar é colocar na mesma linha de mira, a cabeça, o olho e o coração". Talvez olhar também seja isso, só que de uma forma individualista.
Não sei.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Essa tal de ordem natural das coisas. Ah, se eu pego ela

"Quando o sol já corre a se esconder
E a noite já se faz sentir
Aparecem os velhos temores
Coração precisa resistir
Não se mata a sede de viver
O futuro nunca vai ter fim
Nem que seja o sonho dos poetas
Tudo aquilo que restou pra mim
E que me conduz
De repente vem uma canção qualquer
(...)
Mas nem tudo é como a gente quer
Esse mundo não foi feito assim
Desprezamos todos os valores
Nem sabemos mais o que é ruim
Então siga logo quem souber
O caminho para ser feliz
É viagem pra quem não tem pressa
O destino de quem sempre quis
Ter alguma luz
De repente vem uma canção qualquer
(...)
Com a ordem natural das coisas
Pelo menos aprendi
Foi a ordem natural das coisas
que me trouxe até aqui"

sábado, 29 de agosto de 2009

Parte de uma conversa boa...

Tenho pensado muito que o corpo é uma prisão perigosa. Precisamos dele pra aproveitar as coisas boas desse mundo, mas gostamos demais dele. E damos ênfase demais a ele e não a nós mesmos, à nossa alma.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

(A)normal

"Eu hoje tive um pesadelo e levantei atento, a tempo
Eu acordei com medo e procurei no escuro
Alguém com seu carinho e lembrei de um tempo
Porque o passado me traz uma lembrança
Do tempo que eu era criança
E o medo era motivo de choro
Desculpa pra um abraço ou um consolo
Hoje eu acordei com medo mas não chorei
Nem reclamei abrigo
Do escuro eu via um infinito sem presente
Passado ou futuro
Senti um abraço forte, já não era medo
Era uma coisa sua que ficou em mim, que não tem fim
De repente a gente vê que perdeu
Ou está perdendo alguma coisa
(...)
Que vai ficando no caminho
Que é escuro e frio mas também bonito
Porque é iluminado
Pela beleza do que aconteceu
Há minutos atrás."

Amanhã será um mês sem você. E logo um ano, cinco anos, uma década, e várias décadas.
A gente se prende a momentos marcados no tempo que, por algum motivo, significam algo. Uma contagem estranha de tempo, que faz alguns dias serem mais fáceis ou mais difíceis. Ou apenas normais.
Tempo é algo que você não vive mais. Já se libertou dessa prisão, que não é perpétua para ninguém.
Será estranho, daqui há várias anos, quando eu ainda for relativamente jovem, dizer: "Ele já se foi há 30 anos". Para quem escuta isso sempre soa como algo que já virou normal. Mas tenho receio de que o sentimento será sempre o mesmo de agora, que faz um mês.
30 anos serão apenas uma sucessão de meses. Meses de uma vida que continua, cheia de coisa pra acontecer.
Mas uma vida diferente. Uma vida readaptada. Uma vida com curativo, vida que vai ser cicatrizada.
E não é assim com todo mundo?
Estranho como algo tão normal pode ser tão anormal.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

"Sí, hay salida". ¿Hay?

Se tivéssemos realmente a noção de como tudo é passageiro e rápido, viveríamos outra vida, completamente diferente, antes de levantar voo.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Estou de licença

Eu decidi tirar licença
Licença poética
Pra falar o que eu quero e falar o que eu penso
E f%$#-se quem não gostar
Isso é problema seu
E a boca é minha
E nem sei quanto tempo vai durar
Eu mesmo é que vou determinar quando termina a licença
E se você não gostar
Isso é problema SEU.

sábado, 15 de agosto de 2009

Um barco à deriva


"Tanta lágrima, tanta lágrima y yo
Soy un vaso vacio
Oigo una voz que me llama
Casi un suspiro
Rema, rema, rema..."

A canção de Jorge Drexler fala de alguém que crê ter visto uma luz ao outro lado do rio e, por isso, se sente chamado a remar, mesmo que a luz seja fraca, que o chamado seja quase um suspiro.
Eu ainda não vejo a outra margem do rio, ainda não sei pra onde remar.
Ouço uma voz que me chama, quase um grito, dizendo pra remar. Mas pra remar pra longe, pra cair no mar e me perder. Mudar de direção, de nome, de águas.
Essa vida tem sido cheia de ondas. Acho que estou precisando de um porto pra ancorar.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

"Nosso céu tem mais estrelas"

Dia dos pais
Ontem foi meu primeiro dia dos pais sem pai. Experiência estranha. Embora ele esteja presente em tanta coisa pra qual eu olho, não foi mais possível desejar a ninguém felicidades nesse dia. E nem mais será. Estranho. A morte muda até o calendário.
Só acho que eu não precisava ter me atrevido a ver parte do Programa do Didi. Bem nesse dia o Pe. Fábio de Melo decidiu cantar "Pai", de outro Fábio (o Junior). E nada mais emotivo nessas situações do que um cantor brega cantar algo tocante, não é mesmo?!

Ilusão
A nossa mente é algo inexplicável pra mim. Só ela pra criar realidades em cima de coisas não existentes, de verdade. E entre essas coisas não existentes incluo o tempo e a vida. São apenas ilusões. Ilusões tornadas reais pelo esforço maldoso da nossa mente cruel.
E ultimamente tenho pensado, embora não refletido muito, sobre a realidade - ou não - da morte.
Digamos que eu estivesse num país de difícil comunicação, longe de casa, e não soubesse da morte do meu pai. Digamos que se passassem uns dois anos antes que eu voltasse a ter contato com a minha família e soubesse do acontecido. Na minha mente, ele estaria vivo. E mesmo depois de saber do fato após uns dois anos, esse tempo em que ele esteve vivo na minha mente continuaria tendo sido um tempo de vida pra ele - segundo a minha mente. E qual realidade seria real? Pra ele, a morte teria chegado no momento em que saiu do corpo. Pra mim, a morte dele teria chegado dois anos depois. O que é mais verdadeiro?
Tudo é mesmo como correr atrás do vento. É ilusão, é vão. Ou não.

"And in time we will all be stars"
Hoje à noite fui levar o cachorro pra passear, como tenho feito. Ele com as pernas (patas) já fracas pela idade. Eu com as pernas fracas por outros motivos.
Fui andando com o cachorro e, de repente, me deparei com o céu. Fiquei ali, parado, olhando pra cima. Deu vontade de ficar assim pra sempre. Só olhando, olhando, imaginando, ou não pensando nada. Só vendo as estrelas. E então vi uma estrela em específico. Mais brilhante que as outras. E de forma estranha imaginei ele olhando pra mim daquela estrela. Que ele não está lá eu sei. Mas foi tão estranho. Me deu um pouco de vontade de chorar, mas, principalmente, me deu vontade de sorrir. Vontade que me fez sorrir. Sorrir com vontade de chorar. E eu fui andando, e aquela estrela me seguindo. Eu não estava mais olhando pra ela, mas sentia ela olhando pra mim.
E pensei que ele poderia estar lá, num planeta só dele. Talvez um planeta tão pequeno quando o do Pequeno Princípe. Talvez um planeta grande. E talvez nos tornemos realmente eternamente responsáveis por aquilo que cativamos.
"Tu seras pour moi unique au monde."
E parafraseado alguém, eu fiquei debaixo de uma laranjeira, sonhando com as estrelas.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Sei lá

Depois de um tempo aqui parado pensando em como escrever o que quero escrever, percebo que é melhor nem escrever nada.
Vontade de fazer o tempo voltar. Vontade de fazer a vida ser que o não é. Vontade de mudar as coisas. Vontade de ter algum poder.
Acho que somos um barco à deriva.
Acho que vou dormir. Estar acordado dá trabalho demais.

domingo, 2 de agosto de 2009

Coração vestido de preto

É estranho estar com o coração vestido de preto
O horizonte ficou tão diferente, talvez mais distante
Todas as cores estão mais parecidas, menos fortes e brilhantes
E as horas parece que seguem ainda um ritmo próprio que não corresponde a nada
Nada que eu conhecia

É estranho estar com o coração vestido de preto
E sentir um frio na barriga que não se explica por si só
Não é de medo, nem de ansiedade, nem de frio, nem de fome
Não é
É como se fosse possível sentir um vazio passeando pelo corpo
Uma hora está na cabeça, outra no peito, outra nas pernas trêmulas, outra no corpo todo

E você anda pela rua vendo que tudo continua igual
E as pessoas continuam suas vidas
Riem seus risos, beijam, brigam, sofrem, nascem e morrem
Mas os meus olhos estão diferentes
Tão diferentes

O dia pode nascer com chuva, com sol, nublado, claro
Tudo parece mais igual
O dia e a noite estão bem parecidos
Bem parecidos

É estranho estar com o coração vestido de preto

quinta-feira, 30 de julho de 2009

A vida é um pisca-pisca

"A vida, Senhor Visconde, é um pisca-pisca. A gente nasce, isto é, começa a piscar. Quem pára de piscar, chegou ao fim, morreu. Piscar é abrir e fechar os olhos – viver é isso. É um dorme-e-acorda, dorme-e-acorda, até que dorme e não acorda mais. A vida das gentes neste mundo, senhor sabugo, é isso. Um rosário de piscadas. Cada pisco é um dia. Pisca e mama. Pisca e anda. Pisca e brinca. Pisca e estuda. Pisca e ama. Pisca e cria filhos. Pisca e geme os reumatismos. Por fim, pisca pela última vez e morre."

segunda-feira, 20 de julho de 2009

We are the world

O bilhete da foto acima diz, como vocês veem: Eu gosto de olhar os desconhecidos e imaginar que eles têm alguém que os ama.
No entanto, ultimamente tenho me questionado muito sobre a realidade dessa frase, e não tenho conseguido concordar com ela. Gosto, sim, de ver as pessoas, e imaginar rapidamente quem são. Não me prendo muito tempo nessa atividade, mas gosto de olhar os outros e imaginar. E tenho ficado triste com o que imagino.
Tenho visto pessoas tão tristes, situações tão tristes, alegrias tão fúteis.
Um dia desses, andando por uma rua cheia de bares e vida noturna, fiquei pensando no vazio de toda aquela diversão inútil. Não que não seja boa, mas baseado nas pessoas que conheço, inclusive eu, noto que é uma alegria que não satisfaz, é um preenchimento temporário pra um vazio permanente. E as pessoas continuam comprando o modelo de felicidade que as outras vendem. E cada vez pagando mais caro pela compra.
Além disso, tenho reparado muito nas pessoas marginalizadas da cidade. E tenho me sentido muito mal. Não consigo imaginar nada de bom pra elas, e não consigo ver ninguém que as ame. Nem um pouco. Ontem voltando pra casa eu vi um homem enrolado nuns panos, sentado nas escadinhas na porta de uma loja já fechada, pois era bem tarde. Ele se mexia um pouco como se estivesse se esquentando do frio. E eu passei rápido tentando imaginar o que poderia estar dentro da cabeça dele. Ele sobrevive ao frio pra quê? Será que ele tem saudades da mãe dele? Será que ele conheceu a mãe dele?
Tenho me perguntado muito, ultimamente, sobre o nosso papel com relação aos outros. E com isso não falo apenas das pessoas tidas como necessitadas ou marginalizadas. Eu falo de todas as pessoas. Vejo que, no geral, ninguém liga para a coletividade, nem para a individualidade alheia. Eu, por exemplo, divido um apartamento com uma pessoa que não entende que eu não sou como ela. Uma pessoa que não consegue se colocar no meu lugar. Será que somos todos assim? Será que seremos sempre todos assim?
Eu não quero ser essa pessoa pra sempre. E eu não quero esse mundo pra sempre.
E você? Vai me dar uma idéia pra mudá-lo ou não?

terça-feira, 14 de julho de 2009

Quem se importa?



"Take your candle, go light your world."

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Considerações II

Hoje, querendo escrever algo no blog, eu não consegui chegar a uma conclusão. Várias coisas foram pensamentos durante os últimos dias, mas nada me deu vontade de fazer virar postagem. Na verdade, vontade deu, mas nenhuma idéia se desenvolveu.
Por isso, decidi escrever mais uma postagem do tipo considerações. Assim eu falo um pouco de algumas coisas, lê quem quiser o que quiser, e eu vou dormir em paz [?].

Cocoricó
Eu fui assistir essa tarde a uma apresentação de uma cavalaria, o que aconteceu em um parque na cidade. Foi tudo ótimo mas o que me chamou mais atenção foi um mulequinho que estava perto de mim. Diferente da maioria dos parques que eu conheço, entre as aves que ficavam espalhadas pelo local havia vários galos! E como os galos estavam mais próximos de nós do que os cavalos que estavam na arena, as aves acabaram chamando mais a atenção do garoto. Num certo momento o galo cantou. E o menino surpreso falou: 'Eu nunca vi um galo cantar!'
Depois eu fiquei pensando sobre como certas coisas que para algumas pessoas são tão normais podem ser tão novas pra outras. A gente tem uma tendência a falar mal das pessoas das grandes cidades dizendo: aquele menino nunca viu uma vaca de verdade na frente dele. Mas, na realidade, as pessoas do interior também nunca viram muita coisa que os da selva de pedra já viram. Se são coisas melhores ou piores, isso é uma questão de opinião, de visão. O que mais me impressiona é ver como as pessoas se formam através de experiências tão diferentes umas das outras e acabam se tornando todas, de uma certa maneira, semelhantes.
É impressionate o ser humano. E é incrível ser humano. Mas fácil não é.

Vinha
Fui, essa noite, através de um convite feito por uma colega de faculdade pelo twitter, a uma igreja nova. Na verdade ela acontece atualmente num salão de um hotel. E a localização do hotel foi escolhida propositalmente. Fica numa rua super movimentada, conhecida pelos seus bares, vida noturna e centenas de inferninhos, se preferirmos assim chamá-los.
E eu fiquei pensando na beleza daquela diversidade, no quanto é saudável dar opções às pessoas.
Eu gosto de pessoas que se misturam.

Xbox360
Ontem, no msn, um amigo meu deu uma esnobada dizendo que tinha um Xbox360 [brincadeira]. Ele falou isso quando eu disse que estou com vontade de jogar Guitar Hero, o mlehor jogo do mundo. Vale lembrar que eu conheço pouquíssimos jogos atuais de video-game. O meu repertório acabou na época do Mega Drive e do Super Nintendo. A looong time ago.
E hoje eu vi como estou com vontade, na verdade, é de passar a tarde inteira jogando. Ir pra casa de algum amigo de verdade, ou receber algum em casa [detalhe: eu não tenho video-game, ok, tragam o seu] pra ficar jogando sem parar, fazer um sanduíche e comer com nescau e continuar jogando... E depois jogar mais um pouco ainda.
Ai que saudade de ter uns 14 anos.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Gin a body meet a body comin thro' the rye


Durante praticamente toda a narração do livro The Catcher in the Rye, o personagem principal, Holden, se pergunta sobre o destino dos patos do Central Park, em Nova Iorque, quando chega o inverno. Os lagos congelam e ele não consegue chegar a uma conclusão, se os patos migram para o sul, se são levados para algum lugar, um zoológico talvez... Fica sempre a dúvida. E ninguém consegue esclarecer essa pergunta. Na verdade, se irritam com ele quando ele toca nesse assunto, dizendo ser uma pergunta descabida, um questionamento desnecessário.
Por outro lado, quando ele conta mentiras mirabolantes, como por exemplo sobre o tumor que tem na cabeça ao fazer uma viagem de trem, as pessoas prestam atenção, querem saber.
Será que não é assim na maioria das vezes na vida real? Os questionamentos mais profundos, mais sérios, são aqueles que não chamam a atenção de quase ninguém. As pessoas não se preocupam com o que realmente importa para os outros, com as idéias que fazem diferença na vida das outras pessoas. "People always clap for the wrong things." Always.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Passatempo?


Hoje, numa reflexão rápida, eu estava pensando sobre a bolacha Passatempo e sua relação com a minha infância. Péssima reflexão, eu sei, mas ela é minha então você respeite, ok.
Eu fui uma criança meio sem noção que, além de já ter pedido de Natal/aniversário uma gaita de foles, um berrante e uma sela pra cavalo (mesmo sem nunca ter tido um cavalo), também quis, desesperadamente, ir pra escola mesmo antes de ter idade pra ir (isso causou sérios arrependimentos mais tarde!). E como eu arrumava, de vez em quando, uma choradeira na frente da escola do meu irmão para poder ficar, eles me aceitavam esporadicamente em alguma turma do pré-escolar pra eu poder ficar lá fingindo que eu estava indo, realmente, pra escola.
Um certo dia a professora da tal "minha" turma me convidou para ir numa excursão com eles para o bosque do Batalhão de Polícia Militar. Foi a minha primeira excursão escolar, mesmo antes de estar na escola. E foi também o começo de uma tradição alimentar "para excursões" que durou por vários anos seguintes. Eu adorava levar nesses passeios bolacha Passatempo sem recheio com uma garrafinha de Coca-cola. E achava aquela combinação fantástica.
Alguns anos mais tarde veio uma propaganda da bolacha Passatempo que me fez cantarolar infindavelmente a musiquinha sonoramente fantástica que eles colocaram:
“Quero que o tempo passe, que o tempo, tempo passe todo mundo tá querendo. Quero passatempo, passa, passatempo o tempo passa e todo mundo está comendo."
Eu acho que tantas crianças devem ter cantado aquilo juntas que o pedido foi atendido. E o tempo passou muito rapidamente.
Hoje em dia eu não curto mais a bolacha Passatempo e nem bebo mais refrigerantes, especialmente o desentupidor de pia Coca-Cola. E estou prestes a lançar um novo biscoito que se chame Para-o-tempo.
Só que alguém vai ter que ajudar a criar um jingle tão bom quanto foi aquele, para que milhões de adultos aflitos com esse tempo que não para, como eu, possam cantar juntos e fazer o relógio andar mais devagar.
Será que vai funcionar?

*Vale ressaltar que Passatempo é o nome dado a partir do início dos anos 90 para a bolacha Divertidos.

sábado, 4 de julho de 2009

Playing with the words

A plataforma dessa estação é a vida

Eu só não sei como eu vou voltar pra casa
E encontrar a casa bastante vazia
Eu realmente não sei.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Tonight

I'm longing for a busy day
With hours and dates and tasks to accomplish
But tasks I want to accomplish
And challenges I want to take
I'm longing for a day with more plans
Maybe more dreams
Real dreams
Dreams that I can transform into plans
I'm not longing for the future
I don't want the future to come
I want the present to bloom

terça-feira, 30 de junho de 2009

Pra bom entendedor uma planta basta

Preciso falar [escrever] alguma coisa?

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Laranjeira


"Laranjeira
Sonhar com as estrelas..."

domingo, 21 de junho de 2009

Eu, hoje.

Esse fim de semana vim visitar meus pais na minha cidade original. E é sempre bom, mas tão estranho. Entre nós três tudo ótimo. Mas dentro de mim tantos eus.
Eu olho pras pessoas de onde eu sou e onde vivi grande parte da vida e tento me ver nelas, mas não consigo muito. Olho pros meus pais e ao mesmo tempo em que me vejo, não me vejo mais.
E olho pra mim mesmo, e não consigo me enxergar.
Eu vejo algumas pessoas que pertencem tanto a quem são, a onde estão, e às pessoas com quem vivem. Eu não. Não me sinto inteiro em lugar algum. Há pedaços por todos os lados desse planeta, que vão ficando. E eu vou caminhando repartido.
Sábado por volta das 5 da manhã eu vi a lua e uma estrela especialmente brilhante. E eu achei um pedaço de mim. Eu queria ter ficado horas dentro daqueles minutos, sentindo uma parte de mim que eu não sentia fazia tempo.
Amanhã parto, novamente, em busca de outro pedaço que fica guardado num outro local. E assim vou me espalhando pelo caminho.
Acho que estou com vontade de deitar e sentir meu corpo todo junto, sentir um sono sem ontem, nem amanhã, nem sempre, nem nunca. Sentir o agora.
E eu decidi que não quero terminar esse texto.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Mr. Antolini

"Among other things, you'll find that you're not the first person who was ever confused and frightened and even sickened by human behavior. You're by no means alone on that score, you'll be excited and stimulated to know. Many, many men have been just as troubled morally and spiritually as you are right now. Happily, some of them kept records of their troubles. You'll learn from them - if you want to. Just as someday, if you have something to offer, someone will learn something from you. It's a beautiful reciprocal arrangement. And it isn't education. It's history. It's poetry."

domingo, 14 de junho de 2009

Considerações

Home Alone
Desde quinta-feira estou sozinho em casa! Como isso é bom.
Não tive o feriado extendido, ou como dizem os franceses, não fiz a ponte. Mas as pessoas que moram comigo sim e, por isso, viajaram. Fiquei só. Que paz.
Pude ouvir Josh Groban, Bernard Fines, Coldplay e Caedmon's Call bem alto, como não fazia havia muito, muito tempo. Acendi e apaguei as luzes na hora que eu quis, falei sozinho.
É muito bom se respeitar!

Saúde
Pra aproveitar que era feriado prolongado (mesmo não tendo feito a ponte), eu fiquei doente.
Planejei milhares de coisas pro final de semana e pronto: fiquei meio mal, com muita febre, e bastante tempo deitado. Na sexta-feira, tive 13 horas de trabalho, com febre o dia todo, e mesmo sabendo disso minha chefe nem ligou. Afinal, pra que serve a maioria dos humanos? Pra estragar a nossa saúde, sempre.
Por isso prefiro os cachorros, as criancinhas, e uns 5 a 10% de todas as pessoas que conheço. Esses fazem a vida valer.
E hoje, bem melhor que nos outros dias, vejo o quanto é bom estar saudável.

O som
Hoje, excepcionalmente, fui à igreja pela manhã. Sentei-me com os surdos pois estou aprendendo um pouco de libras (linguagem brasileira de sinais) e é bom para interagir e aprender um certo vocabulário. Restrito, mas extenso quand-même.
O organista era um dos melhores organistas que eu conheço, talvez o melhor que já ouvi.
Após o prelúdio, o coral começou a cantar uma canção e a intérprete a traduziu para os não ouvintes. Eu fiquei olhando pra ela e refletindo sobre a impossibilidade de transimitir o som daquele órgão, a mão daquele cara nas teclas e os seus pés no pedal, e as vozes do coral usando apenas as duas mãos da intérprete. A música, que é a coisa mais bela que eu conheço, é algo desconhecido para aqueles surdos. Totalmente desconhecido.
Como se descreve o que é a música em libras?

As cores
Hoje peguei o metrô por volta das 13h00. Quando chegei à estação da Sé, onde trocaria de metrô, a surpresa: eu nunca vi tanta gente naquele lugar. Não dava nem pra descer pro andar debaixo, onde passa o metrô que eu precisava. É que como eu precisava pegar o trem no sentido que ia pro mesmo lado da avendia paulista, e hoje tem parada glbt, todo mundo estava indo naquela hora pra lá.
Nunca vi tanta gente autêntica junta. Cada figurino, cada maquiagem, cada leque, cada cor. Era autenticidade demais para o metrô de São Paulo.
E dava pra ouvir a alegria de todo mundo no andar de baixo quando o metrô chegava. Eu desisti de esperar após um tempo sem nem conseguir chegar perto da escada pra descer e saí pra pegar um táxi. Mas de cima dava pra ver, por um local onde há vãos, as plataformas de embarque do andar de baixo. Fiquei impressionado com o colorido.
O metrô de São Paulo é sempre tão cinza, tão nublado. Acho que os funcionários do metrô deveriam começar a usar umas roupas mais variadas.

Por fim acho que essa postagem ficou meio a la twitter mas ok. Deve ser porque eu aderi ao twitter recentemente.

terça-feira, 9 de junho de 2009

São palavras dos outros

"Não sei quem sou, que alma tenho.
Quando falo com sinceridade não sei com que sinceridade falo.
Sou variamente outro do que um eu que não sei se existe (se é esses outros)...
Sinto crenças que não tenho.
Enlevam-me ânsias que repudio.
A minha perpétua atenção sobre mim perpetuamente me ponta
traições de alma a um carácter que talvez eu não tenha,
nem ela julga que eu tenho.
Sinto-me múltiplo.
Sou como um quarto com inúmeros espelhos fantásticos
que torcem para reflexões falsas
uma única anterior realidade que não está em nenhuma e está em todas.
Como o panteísta se sente árvore (?) e até a flor,
eu sinto-me vários seres.
Sinto-me viver vidas alheias, em mim, incompletamente,
como se o meu ser participasse de todos os homens,
incompletamente de cada (?),
por uma suma de não-eus sintetizados num eu postiço."

sábado, 30 de maio de 2009

O sonho de Ícaro



Eu bem queria que hoje fosse dia 17 de outubro de 1983

E com muitos sonhos e imaginações na cabeça

Nascesse um garoto, um novo garoto

Com tanta gente esperando que

Um choro sinalizasse saúde e vida

Como se ninguém entendesse a realidade de que

A vida se manifesta até mesmo no silêncio


Eu queria 20 e poucos anos diferentes

Deles sobraria pouco e sobrariam poucos

Com certeza manteria o pé de pitanga

E os de jabuticaba

Mas não preservaria vários dos pés que me guiaram por caminhos indesejáveis

E cruéis demais

Eu teria aprendido menos de muitas coisas

E mais de poucas, pouquíssimas coisas

Que fariam de mim alguém irreconhecível pra quem me considera conhecido

Eu seria muito mais eu


Eu queria que hoje fosse 17 de outubro de 1983

E que as expectativas fossem diferentes

Pois, infelizmente, nos tornamos um pouco das expectativas dos outros

Eu daria mais interesse às minhas expectativas

E deixaria menos coisas pro futuro

Eu curtiria mais meus aniversários

Eu dormiria mais

Mas sonharia menos

Eu queria menos vão

Entre tudo isso que é tão, tão vão

Em todos nós


Se hoje fosse dia 17 de outubro de 1983

Eu nasceria às 7h25 da manhã

E não da noite

Eu seria menos bom

Mas mais justo

Muito mais justo

Eu me chamaria Ícaro

E me deixaria ser tentado a voar pra perto do Sol

Mesmo que fosse pra morrer no mar

Eu veria mais o mar

E escutaria mais o mar


Se hoje fosse 17 de outubro de 1983 outra vez

Eu me recusaria a chorar

Só pra ensinar que a gente não pode nascer

Já aprendendo a se sentir tão indefeso

Isso se hoje fosse 17 de outubro

De 1983.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

As primeiras horas do dia

Perto das 5 da tarde é sempre a mesma correria. Terminar os e-mails pra mandar, as tabelas do Excel, as listas de ciblage, os últimos telefonemas; milhares de minutos pra caber em poucos minutos.
E logo mais tarde, ao fechar as janelas começa a grande correria, a grande travessia.
Eu ando rápido pelos jardins, espero um ônibus que às vezes demora, às vezes não. E se ele demora eu bato o pé, cruzo o braço, descruzo o braço, bato o pé de novo, ando de um lado pro outro. E ele chega, enfim. Depois de um trajeto nada augusto eu desço como um louco pra pegar o metrô. Atravesso aquela multidão de outros, atravesso a rua. Milhares de pensamentos me atravessam. Às vezes nenhum. E, muitas vezes pela primeira vez no dia, eu vejo o azul do céu. Entre prédios, mas ele continua azul. Insiste em ser azul.
E na correria do céu pra ficar negro, eu desço desesperado pelas escadas do metrô. Filas nas catracas, espera, mais espera, primeiro metrô, não entro, segundo metrô, entro. Às vezes cheio, às vezes não. A cabeça sempre cheia. Sempre não, quase sempre.
As estações parecem demorar mais pra chegar nesse horário, mas chegam.
Na minha estação eu desço, correndo mais que minhas próprias pernas. Quase tropeço nos meus próprios passos. Subo escadas, mais escadas, túnel, mais escada e enfim uma luz.
No último raio de luz do sol que às vezes ainda há eu olho para o obelisco do parque, tiro a fantasia e sei que tenho algumas horas restantes pra tentar viver.
E nessa loucura entre jardins e paraíso eu vivo. Ou sobrevivo.
Ou vivo.

Entre os dias

Eu queria que hoje fosse ontem
Pra eu ter um amanhã que seria um hoje totalmente diferente de hoje.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Janelas

Janelas sempre foram coisas fascinantes pra mim. Dá pra colocar cortinas, persianas, flores e todo tipo de adornos. Enfim, dá pra fazer milhares de coisas pra enfeitar sua janela. Mas eu percebi que não adianta nada. Não importa o que se coloca por dentro: não depende de você o que se vê do lado de fora.
Uma coisa que acho bastante interessante é que, nos dias de hoje em que a gente mora em prédio, dá pra notar que, quando você tenta olhar pra dentro da janela dos outros, dá pra ver muito pouca coisa. Mas da sua janela – ou, como se diz melhor em espanhol, desde a sua janela – dá pra ver um mundo incrível. As janelas são algo de dentro pra fora.
Só pra recordar uma coisa. Um certo dia, um amigo meu estava fazendo daquelas brincadeiras de folhear o dicionário, perguntar o que significava tal palavra e ver se a gente acerta. Foi quando ele perguntou: o que é defenestrar? Eu, então, respondi: é lançar pela janela. Ele se surpreendeu. Mas essa eu sabia porque uma amiga tinha um dia comentado que viu essa palavra e achou engraçada. E não é que é engraçada mesmo? A gente normalmente não a conhece, mas, talvez, seja o nome da melhor função da janela: nos lançar para fora.
Ontem, curiosamente, eu me defenestrei. E vi coisas que talvez sempre estiveram ali. Mas na correria do dia a dia, a gente não consegue ver as coisas que vê. “Não vemos o que vemos; vemos o que somos”, disse Bernardo Soares. Será que isso é verdade? Penso que se for, talvez não somos muitas e diversas coisas. Talvez não queiramos sê-las, não saibamos sê-las, ou finjamos não sê-las. Enfim, ontem talvez eu fui algumas dessas coisas.
Notei uma mulher despenteada, completamente. Cabelo ruim, ou mal cuidado, muito mal vestida, um tanto feia, dormindo no chão. Talvez já fosse hora de acordar. Mas, eu pensei: acordar pra que, se ela nem tem onde dormir? Com certeza nem tem onde acordar. E eu imaginei se ela tinha saudades da mãe dela.
Eu também reparei num ônibus que passou. Laranja, pra mostrar que não adianta fazer uma lei pra tirar os anúncios publicitários da cidade, ela vai continuar cheia de poluição visual. Será que eu também sou uma poluição visual? Mas, enfim, eu reparei um homem de meia-idade, todo arrumado, de terno e vi que ele nem se movia. O olhar estava baixo, e achei que ele chorava. Não tinha lágrima, ou não dava pra ver bem, mas eu achei isso por algum motivo. Não havia nada nele que combinasse com seu estilo caro. Ele me pareceu estar barato. E eu imaginei se ele tinha saudades da mãe dele.
O mais legal foi na frente da loja dos chineses. Tinha um molequinho, de uns quatro anos de idade, que não parava de pular. Pular na calçada. Aquele sim estava feliz. Por quê? Tenho certeza de que ele não sabia. Talvez exatamente o não saber o fazia feliz. Os adultos são ridículos, pois não conseguem se espelhar nas crianças. E pobres das crianças se fizerem dos adultos seus espelhos. Esteja certo de que elas não riem pra nós; elas riem de nós. Ele estava perto de seus avós chineses, com aquelas caras de quem come soja, e eu não consegui parar de imaginar se ele estava com saudades da mãe dele.
Daí, de repente, vi chegarem meus amigos que eu estava esperando, pois íamos sair pra jantar. Chegaram em um carro bonito e novo. Mas eu notei que pararam de discutir só quando se aproximaram do prédio. Sabe como são os adultos: um fingimento constante. “A vida é um palco”, já disse algum realista. E naquele momento, antes que eu fechasse minha janela pra descer, alguém do prédio da frente fechou a dele. E como era de vidros espelhados, eu me vi. Fiquei parado por um segundo que durou muito tempo. Vi um moleque, um senhor de meia-idade, uma mulher descabelada, um ônibus laranja, um carro novo, um pedinte, uma vendedora de loja, um hippie da praça do centro da cidade, um cão, um padre, um meu irmão, o meu pai, minha mãe, e, finalmente, a minha própria janela – vazia.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Tempo

"Sou perecível ao tempo
Vivo por um segundo..."

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Também sem título


Sem título


Now and then

De vez em quando a gente se surpreende nessa vida

De vez em quando
Só de vez em quando.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Alergias e alegrias

Há já alguns anos eu noto que tenho uma pequena mas incômoda alergia a algum ou alguns temperos que ainda não consegui identificar exatamente. Não é nada que me dê coceiras pelo corpo todo, vermelhidão excessiva ou previsão de morte, mas me dá um incômodo geral e um calor não importa o inverno.
Mais recentemente notei que em alguns restaurantes perto do trabalho isso estava se manifestando com mais frequência, daí percebi a presença de coentro em várias coisas, fui mudando os lugares de almoço pra tentar melhoras... mas PAM! tarde demais. Virou uma alergia psicológica. É só chegar a hora do almoço, antes mesmo de eu sair pra almoçar e o mal-estar já chega. E pra minha satisfação ele persiste até a hora de sair do trabalho. Na verdade, normalmente por cerca de 30min a 1hora após a saída do trabalho.
Descobri, então, que é alergia ao trabalho! Doença complicada de curar.
No entanto, o que quero relatar é que hoje eu fui almoçar, saí depois pra andar pela vizinhança e simplesmente notei que o dia estava mais bonito, o clima melhor, a 1h de almoço durou mais... Achei estranho.
Voltei, comecei a usar o computador e, de repente, PAM! Eu notei que não estava sentindo o mal-estar! Talvez beeeem lá no fundo um pouquinho, mas quase inexistente. Enfim, prefiro dizer que nem estava sentindo! Por isso estava tudo tão mais agradável!
Será que isso indica uma cura psicológica definitiva e intensa, uma transformação radical, um alinhamento dos astros, a influência da lua na quantidade de água do meu corpo fazendo com que meu destino jamais seja o mesmo? Será que aponta que a partir de hoje posso por coentro até na água e nenhum mal me alcançará? Será que mostra que eu adoro meu trabalho?
Menos, Alex, menos.
Viver um dia a cada dia;
Um almoço a cada almoço;
Uma alegria a mais a cada alergia a menos;
Um dia a mais a cada dia a menos.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

F. Pessoa

"Quem não vê bem uma palavra, não pode ver bem uma alma."

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Feriado: Buenos Aires, claro!

Mais um feriado tornando um fim de semana prolongado e eu com meus planos de ir pra Buenos Aires. Afinal, é só ter uma sexta-feira ou segunda-feira acoplada ao fim de semana e eu já faço meus planos de ir pra lá.
Clima bom, cidade bonita, cafés ótimos, night clubs animados, praças legais, tango, Puerto Madero no por-do-sol, Jardim Japonês... Enfim, Buenos Aires.
Também é bom pra rever um conhecido que tenho por lá, embora sem muita amizade, mas pra por o papo em dia, praticar espanhol, sempre bom, né. E sem falar que deve ter sobrado alguma Columba Pascal da Havanna, agora em preço promocional, em alguma loja deles.
E como são bons os preparativos da viagem. Os dias anteriores, pensando em como vai estar o tempo, vendo na internet o que não se pode deixar de visitar, planejando quais os melhores restaurantes pra ir, e quais os novos, e quais os velhos.
Mas só pra variar, em mais um fim de semana com planos de Buenos Aires eu não vou pra Buenos Aires. Vou pro interior de Minas.
Você não acha muito mais divertido? Eu não.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

De novo, o som


Em português o verbo tocar foi muito bem escolhido. Muito melhor que a tradução dele para várias outras línguas.
Você pensa que toca a música, mas é ela que toca você. E de uma forma tão impressionante que você não pode se controlar. Ela te domina e te faz sorrir, rir, chorar, parar, pensar, se acalmar, na hora em que ela quer.
Ela toca aquilo que você nem pensava conseguir alcançar.
Você toca um som agudo e ela, de brincadeira, toco o seu ponto mais grave.
Você toca um acorde maior, e ela, de pirraça toca o que você tem de menor.
Você toca um acorde com muitas notas e ela, sorrateiramente, toca aquilo que ninguém mais nota.
E você pensava que tocava a música?
Não, ela te toca.
Toca quando quer, como quer, e se quiser.
O melhor mesmo, já que não há escolha, é se entregar a ela
E só pedir, se possível, que te faça ver a vida
Um pouco menos dissonante.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Passatempo

O mês voou
Isso é uma loucura
Daqui a pouco ele já se terá somado novamente a outros
E terão se tornado anos
E eu já serei, de novo, outra pessoa
Abril já está no final.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Mundo gris

Hoje eu queria escrever
Falar sobre um milhão de coisas que estão dentro de mim
Mas, definitivamente, não consigo
Não posso
Só vou dizer
Que o dia foi bom
Mas o céu está nublado.

domingo, 19 de abril de 2009

Desgraçado

Hoje, ao sair da igreja, eu fui andando pela rua indo pro ponto de ônibus, com o celular na mão, quando um adolescente com cara de trombadinha veio em minha direção, naquela rua escura e um tanto vazia. Eu, como usual, não senti muito medo, mas apenas pensei que ele poderia roubar o meu telefone. Ele realmente queria falar alguma coisa [ou talvez roubar-me mesmo], e se aproximou já dizendo algo do tipo "calma, que eu não sou malandro não", frase para a qual eu respondi "tudo bem, então", e atravessei a rua. Ele, na hora, só disse: "desgraçado", e continuamos cada um para o seu lado.
Eu, naquele momento, fiquei pensando no quão desgraçada foi mesmo aquela minha atitude.
Eu havia acabado de sair de um local onde se fala de graça e manifestei exatamente o contrário para a primeira pessoa que fez contato comigo depois dali.
Mas eu, realmente, não consegui pensar em qual outra atitude eu poderia ter. Ficar e falar com ele, mesmo sabendo que provavelmente eu seria roubado? Eu só pensei que se realmente ele não era um trombadinha, ele conseguiu então me descrever perfeitamente naquele momento com o adjetivo que me deu. Afinal, eu não ofereci graça alguma naquela hora, e me mostrei completamente sem ela.
Um pouco mais a frente, depois de descer do ônibus, ainda na mesma avenida, vi uma adolescente que teve que insistir com um grupo de adolescentes para que algum deles lhe desse o resto de uma casquinha de sorvete. Saiu xingando, com um cone com ainda algum resto de sorvete na mão, que um deles lhe deu. Alguém com pouca graça para oferecer, e num sorvete que já estava com ódio demais pra que ela pudesse sentir prazer, eu penso.
E então, por alguns minutos, eu fiquei pensando no que é que a gente pode fazer de verdade para ajudar a vida de alguém. E como fazê-lo. Todos nós precisamos tanto de alguém que entenda o que a gente sente, e a gente nunca encontra isso, e nem oferece isso pros outros, seja pros próximos ou para os da rua, e mesmo para os que moram na rua. Novamente, e como fazê-lo?
Eu fui indo pra casa, passei no supermercado de luxo do bairro, comprei um pão australiano, e vim viver a minha vida fingida de burguês, com as minhas bolachas de gotas de chocolate que chegaram de Israel.
E, como sempre, quem dorme na rua continua na rua, quem não tem sorvete continua sem sorvete, e eu continuo sendo o mesmo hipócrita que sempre fui.
Desgraçado.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Enough is enough

Eu só voltei a São Paulo para estudar música. Só para isso. Foi uma decisão pontual e precisa, além de necessária. Porém a vida não respeita a gente, e fez a minha realidade ficar praticamente sem som. Eu ganhei um quase silêncio.
Eu vejo o som em tudo, mas o meu corpo acorda e dorme mudo.

domingo, 22 de março de 2009

E o resto?

É muito difícil sentar-se de frente a uma tela e teclas que fazem tac-tac-tac quando, na verdade, o corpo todo queria estar de frente a 88 teclas, brancas e pretas, que fazem sons que podem mudar a sua vida.
O corpo, de desespero pela crise de abstinência, às vezes bate o pé ritmado, até que um colega pede pra parar. Às vezes assobia um fraseado, até que alguém olha como que já é o suficiente.
O sono talvez esteja sendo o período mais real da minha vida.
O resto tem sido resto.

Eu não aguento mais um dia viver sem tocar e cantar,
Mas a vida insiste em não me deixar viver.

Air

Se eu quisesse me descrever hoje
Eu apenas diria:
Ouça Arioso do Bach.

terça-feira, 17 de março de 2009

É cada uma...

Tenho compreendido que conviver com as pessoas é uma tarefa complicada demais. Já que esse universo é tão grande, poderia haver um planeta pra cada um, né?! Ok, ok, talvez uns 10 ou 15 por planeta, 2 ou 3 em cada continente, coisa básica.
Conversar, embora pareça algo natural, pode ser uma das atividades mais desgastantes e mesmo exóticas do mundo. Falar é normal, mas conversar, embora comum, de normal não tem quase nada.
Gosto (ironicamente, óbvio) de ver como as pessoas desprezam as respostas que você dá pra o que elas mesmas perguntam.
Hoje ouvi um "é preciso enfrentar a vida". Acho que essa frase só veio pros meus ouvidos porque não havia um sorriso no meu rosto por motivos pessoais e sérios. O que será que é enfrentar a vida na opinião das pessoas, ou nas opiniões das pessoas? Será dizer: olha aqui vida, eu tô te enfrentando, tá?! Ou será que é se conformar e fingir que se está enfrentando (quando na verdade você éstá sendo é um palhaço e nada mais)?! Ou será que é ainda viver revoltado deixando claro que você está sendo duro no confronto?! Eu não sei, afinal não sou quem diz que é necessário enfrentar a vida.
E o melhor foi a grande comparação que fizeram: "tocar piano é como andar de bicicleta, você nunca esquece. É só começar e tudo volta." Ah, claro! E masclar chiclete é que nem assobiar, né?!!!
É cada uma...

domingo, 15 de março de 2009

Som

Decididamente não há nada mais bonito do que a música.
Você já nasce com música, com batidas repetidas do coração, e é quando a música para que se morre.
Não há vida sem som, não há nada sem som,
A não ser o silêncio
Que de tão inesperado e desconcertante
Consegue desconcentrar tudo que faz parte de nós
O que pode ser algo bom ou ruim
Tanto faz.

Novo momento do Blog!

Aviso que a partir de hoje esse blog passa a ser um blog escrito por apenas uma pessoa: eu.
Por motivos pessoais das duas outras integrantes, decidiram seguir seus caminhos, legítimos ou não, em outros endereços. Mesmo com seus nomes ainda figurando nessas páginas, as postagens futuras agora serão apenas minhas.
Tentarei, como tento, escrever aquilo que penso e sinto, ouço e vejo, tanto sendo legítimo ou ilegítimo, mostrando os lados irregulares dessa figura que eu sou.
Fique a vontade para ler se for do seu interesse, e para comentar, se achar que é do meu interesse ler.
Novamente, bem-vindo!

domingo, 8 de março de 2009

Clair de Lune

Eu queria um Clarão de Lua
Com seu silêncio claro e desconcertante
Pra despertar os sons mais escuros de mim
Pra fazê-los sair todos por aí pela noite
E me deixarem dormir tranquilo
Ao Clarão da Lua
Eu queria uma vida clara
Com mais estrelas e menos sombras
Com mais sons dissonantes
E menos repetições de barulhos apenas
Eu queria uma vida mais feliz.

Bem, isso é o que eu ouço quando escuto 'Clair de Lune' do Debussy.

terça-feira, 3 de março de 2009

Sangue venoso

23:04 já no meu relógio
Necessidade de dormir para madrugar amanhã
E nada de sono nas veias
Nada
Por que é que há tanta coisa impregnada nesse sangue que corre em cada um de nós?
Tanho sonho, tanta raiva, tanto amor, tanta saudade
Tanta vontade de quebrar os dentes de tanta gente que nem merece existir
ou que não merece correr nesse sangue já venoso

Que vontade de sair correndo
ouvindo um som de guitarra tocando no fundo, que nem em novela
E daí sentir uma chuva caindo
Coisa cinematográfica
Coisa ridícula pra tentar disfarçar o coração

Por que é tão difícil fazer entender o que eu tenho pra falar?
Por que eu não posso falar?
Talvez porque falar não vale nem o esforço de mexer as cordas vocais
Entra por um ouvido e sai por outro ouvido do mundo
Às vezes é melhor ficar quieto
Ouvir Fix You do Coldplay e ter vontade de chorar

Será que uma tranfusão de sangue resolve tudo?
Não
Pois essa vida acho que se impregna é nas veias.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Paz

Paz é igualdade.
É quando aquilo que se sente equivale àquilo que se é.

domingo, 1 de março de 2009

Pais e filhos

Um monte de criança agitada, numa igreja, num culto à noite.
Uma professora tentando fazê-los calar e prestar atenção no que tem a dizer.
Diz que a notícia é boa, mas não resolve. Faz umas perguntas sobre a história, eles respondem, mas logo distraem e voltam a conversar.
Uma das perguntas: O que haverá no céu?
Um diz: ruas de ouro. O outro grita: mansões. Um terceiro interrompe e fala: anjos. E os outros conversando, brigando com o colega do lado, lendo sei lá o quê.
A professora fala, pros poucos que prestam atenção: sim, mas sabe o que mais? No céu não vai ter pai e mãe brigando, pais separando, choro, criança com pensamento ruim.
Aí todos calam a boca e olham pra professora. Quando ela pergunta de novo o que haveria no céu, advinha o que respondem? "Não vai ter pai e mãe brigando, tia. Nem separando"

Eu acho que os pais de hoje deveriam ser menos egoístas antes de terem filhos. Têm filhos pra se mostrar, pra se realizar, pra exibí-los como um troféu. Quase ninguém tem filho pra amar, filho pra fazer diferença no mundo. E filho pra ter família então...
Deveriam pensar um pouco nos filhos que teem, que não pediram pra existir e que são os que mais sofrem com separações e brigas. Deveriam acabar com suas vidas, sem destruir as das pobres crianças.

Bem, pelo menos é isso que eu acho.
Eu tô levando tanto tiro no peito
Que meu coração já está perdendo o ritmo.

Manacá

Belo dia em que eu te encontrei
Sem quase nem perceber ao passar
Debaixo de um pé de manacá
Um cheiro de coisa de longe
Umas cores primárias aqui e ali
E você lá
Não houve sorriso
Nem fala, nem verso
Não houve nada que normalmente não há
Nem coisa estranha, nem chuva, nem brisa
A não ser o manacá
Parado, inerte e neutro
Só refletindo o que se encontra
Nesse peito que eu carrego cá
Com silêncios, pausas e batidas repetidas
Havia sombra
Dos galhos do manacá
Belo dia em que te encontrei
Sem saber de todas as incertas coisas
Que não houve, mas existe e haverá
Sem saber das dúvidas
Das horas, das noites
Dos cafés, dos livros e de tudo que chegará
Sem contar com os sustos
As tristes e alegres memórias
Sem pensar nos minutos daquilo que me acontecerá
Belo dia em que eu te encontrei
Mesmo não vendo a mim mesmo
Eu estremeci ao meu sussurro
Que ouvi no vento que bate nas folhas
Desse pé
De pé
De manacá
Difícil algo mais belo que o silêncio do vento nas folhas das árvores.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Eu juro que eu queria

Hoje eu queria matar! Não uma morte simples, mas dolorosa.
Queria dormir também, muuuuuuuuuito.
Queria não ter que trabalhar amanhã.
E que Deus me pusesse em Seu colo de amor.
Ver algumas pessoas seria bom.
Me esconder de outras, também.
Ficaria feliz se obtivesse algumas respostas,
E se parasse de fazer perguntas.
Queria conversar, rir, ir no cinema, comer fast food.
E ainda estar com a Lisbella ( minha futura cadela labrador) no colo.
Eu queria um lago, com árvores e sombra ao redor, cheiro de terra molhada e pássaros cantando. Chupar manga e ficar com quem eu gosto.
Acho que hoje o que eu mais queria era parar de querer!

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

COMUNICADO

A Fábrica Campos & Silva Ltda. vem a público comunicar que o último de seus produtos não está mais à disposição dos consumidores no mercado por ter sofrido danos irreparáveis recentemente.
A empresa sugere que os interessados em adquirir esse produto procurem semelhantes, por outras montadoras. E avisa também que os modelos professora, amiga, filha e irmã continuam disponíveis, tendo sido danificado apenas o modelo companhia.
Além disso, lamenta a falta que seu produto fará, expressando aqui seu pesar aos consumidores interessados, ressaltando que a perda total do produto não se deveu a erros de fabricação, mas sim ao uso indevido por terceiros.

Atenciosamente,
Campos & Silva Ltda.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

A Cabana

Todo mundo tem certos preconceitos e eu não sou diferente. Os meus mais gritantes são contra o american way of life, sobretudo contra o cristianismo estadunidense, e contra best-sellers. No entanto, às vezes eles me surpreendem de um modo positivo. A surpresa mais recente é a ficção A Cabana, de William P. Young, publicado no Brasil pela Editora Sextante.
O livro se vendeu a mim quando li na contracapa o resumo e o comentário de um cantor que admiro muito. Esse comentário dizia: " Se você tiver que escolher apenas um livro de ficção para ler esse ano, leia A Cabana". Depois disso, decidi que o leria, pra começar o ano e mesmo não tendo ainda terminado a leitura, já o recomendo e já posso dizer que foi uma das maiores e melhores surpresas do começo de 2009.
A Cabana conta a história de um homem comum, um tanto quanto cético e sarcástico, que, após perder a filhinha brutalmente assassinada e não conseguir se livrar da decorrente "Grande Tristeza", é convidado, supostamente, por Deus, pra um encontro a fim de confrontar seu sofrimento e seus pensamentos.
O decorrer da história aborda questões essenciais à fé cristã como o sofrimento;a responsabilidade e/ou omissão do Deus bom diante da dor humana; o amor; a falsa independência que o ser humano tem e que de fato o aprisiona; a facilidade de julgarmos os outros centrados que estamos em nossos egos; e outros. E admira por tratar até de assuntos por vezes esquecidos no meio cristão, como a responsabilidade ecológica.
Mas mais do que falar sobre cristianismo, Deus, homem, sofrimento, Young constrói um diálogo inebriante sobre a morte e a vida. É, portanto, uma história que multiplica, que gera e regenera. E consegue fazer tudo isso de uma maneira profunda e ainda gostosa, mesmo não sempre leve. Afinal, falar e refletir a vida quase nunca é leve!
E como se o texo em si não bastasse para alimentar a alma e transmitir mensagens transformadoras, cada capítulo tem como entrada citações de autores famosos e deconhecidos que também constrangem a mente e o corpo.
Praqueles que, como eu, teem uma paixão pela teologia e, mais ainda, pela teologia cristã, proponho aqui a leitura conjunta de um outro livro, esse mais analítico e denso, só pros apaixonados mesmo, chamado "Deus em questão". Este último trata de muitos dos assuntos de A Cabana e a ela muito pode agregar. Reiterando, só para os apaixonados por teologia. Caso você,não tenha nenhum interesse por isso, mas tenha interesse pela vida e pelo amor e pela dor ou caso você, como eu, mesmo apaixonada por teologia, está à procura de algo leve e romântico, leia apenas A cabana e ela te suprirá.
Ao ler o livro, você pode querer devorá-lo, como fez uma amiga minha que o leu em apenas um dia, ou pode saboreá-lo em meio a risos, choros, conversas e silêncios. Mas de qualquer modo, creio que pode ser ao menos instigado pelas idéias do autor, muito coerentes.
O livro consegue ser ainda hilário com a perspectiva que o autor passa de Deus, o Deus Triuno, em figuras femininas. Mas ao retratar Deus como mulheres e ao explicitar outros comentários acerca dos benefícios que uma gestão feminina traria à Terra, desconfio de um envolvimento feminista ou quem sabe até de um pseudônimo do autor, do que discordo.
Acrescento que o livro carece de uma tradução melhor, cujos erros podem ser notados por qualquer mente com um pouco de conhecimento da língua inglesa. Mas aí, a culpa não é do livro, nem do autor!
Ademais, quando terminar minha leitura, talvez volte aqui e comente mais alguma coisa sobre isso. E desejo uma boa experiência àqueles que se arriscarem.
Uma última citação:


"A Terra, repleta de céu,

E cada arbusto comum incendiado por Deus,

Mas só aquele que vê tira os sapatos;

Os outros se sentam ao redor e colhem amoras."

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

A Deus, meu desconhecido


Mais uma vez, antes de continuar, olho para Você! Olho, na maioria das vezes, com olhos desconfiados e com palavras eloquentes, mas por vezes vazias de significado.

E agora, com o resto de sinceridade que há, converso com você, que desconheço, mas que sou levada a servir e a querer conhecer.

Sirvo imperfeitamente e por vezes, desonestamente. E sigo querendo conhecer.

Você me diz que ama, mas eu não acredito. Eu posso até falar disso, mas não encontro liberdade em Seu amor. Dou lugar a meus medos e não acredito que Você é bom.

Eu olho pra Você e sou vista. Vejo minhas tentativas de escambos diários. E, como se assim pudesse, tento manipulá-Lo, convencê-Lo de minhas razões fúteis e de minhas desculpas descabidas, esquivando-me de minhas responsabilidades.

Por Você e pra Seu prazer, eu queria esquecer-me e ver as pessoas e por elas viver. E por isso também queria querer o queVocê quer e me despir do falso controle que tenho sobre minha vida, me rendendo. Mas faço isso por mim e não por Você, pra que Sua voz possa me chamar.

E de Você, que sei nunca posso esconder, fujo, por não me preocupar com Seu coração. Minha reputação ameaçada recebe minhas lágrimas, mas Seu coração ferido, não.

E com tamanha facilidade esqueço-me que se Você quisesse, Deus, você pensaria em Si mesmo, como eu tanto faço, e deixaria a humanidade esvair-se.

Mas esqueço também que Você não é da mesma natureza que eu. Não é vazio e mau e não procura punir os que não te satisfazem, como eu. Eu esqueço que você é nobre, não pensa só em Si, não escamba e não manipula.

Olho pras pessoas ao redor e vejo flashes de seu Ser.Olho pra mim e Te vejo gritando gritos sufocados em meu interior pra que eu possa Te ouvir. Olho pra água, pro vento, pras flores e pros animais e, algumas vezes, eles refletem sua beleza. E esses flashes, e gritos sufocados, e reflexos esporádicos me transmitem um quê de esperança e de paz. Eles fazem-me crer que posso conhecê-Lo e sentir na alma ecoar Seu amor, banindo o medo. Eles me lembram que você É e que isso é o que verdadeiramente me basta.

Por isso, Deus, mesmo temendo-O, não desisto de torná-Lo meu conhecido.
E Porque Você É, e porque é Verbo e tem em Si todos os verbos que preciso, não desiste de ser por mim conhecido.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Bem sabem os espanhóis das coisas.
Sentir é tão dolorido, às vezes
Tão bobo, às vezes
Tão efusivo, tão passageiro, tão indescritível
Melhor mesmo é não sentir
(Plaza de Espana, Madri)

sábado, 14 de fevereiro de 2009

E eu queria ser Deus

Ator eu já desisti de ser há muito tempo. Por mais que eu tente, sou sincera demais. Se bem que tenha gostado bastante da ideia de aplausos constantes e gritos de "BRAVO!!!!!!!!" pelas ruas.

Eu queria mesmo era ser Deus. Quer ser mais invejável?

Quisera eu poder transpôr distâncias intransponíveis e conhecer todos os corações, inclusive o meu.

E poder mudar as pessoas, convencendo-as sobre o que é melhor pra elas...

Eu queria ser Deus pra não ter frustrações e não precisar esperar dias ensolarados, noites insones, dias chuvosos e outras noites insones e lacrimejantes antes de compreender algo que se passa ao meu redor.

Queria sê-lo pra poder ter relacionamentos completos e completa e perfeitamente comunicados. Deus não sofre com mal-entendidos!Ele se relaciona sempre em pratos limpos e as pessoas sempre acabam lhe dando razão. Mas ser Deus é ainda fazer tudo isso sem manipular, em momento algum. Afinal, não precisa disso quem é completo e se relaciona só por prazer.

Deus não é chegado a fazer contas e nem a ter medo do passado, como se este pudesse levantar-se de sua cova e dizer: SURPRESA!!!!!!!!!!, aterrorizando Sua existência. Porque pra Ele, presente, passado e futuro são um tempo só: único e perfeito. E Ele não se perde em Suas ações tentando prever as ações do outro. Ele age e assim se satisfaz.

Eu queria mesmo ser Deus era pra conhecer-me, a mim, ao próximo e a Deus, perfeitamente. E pra ter amor como se fosse um mar sem fim.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Eu queria ser ator

Eu queria ser ator
Os atores têm o direito de fazer [declaradamente] aquilo que todos fazem todos os dias:
Fingir!
Subir naquele palco, ver as cortinas se abrirem e ser alguém
Rir, chorar, fazer rir, fazer chorar
Falar, falar, falar
O que quiser falar, afinal você só está fingindo
Todos sabem, todos concordam e todos acreditam
Bem, nisso a vida se assemelha:
Todos mentem, todos sabem, todos concordam e todos acreditam
E o pior: acreditam nas próprias mentiras
A ponto de nem perceberem mais que mentem
Enigmas da mente
Eu [definitivamente] queria ser ator
Ganhar palmas pela minha atuação
Sendo que, por esse motivo, todos nós, nas ruas, deveríamos, então, viver aplaudindo
Viver olhando pra todos ao lado e gritando: Bravo!
O ator realmente representa a vida
Não porque vive a vida de um outro
Mas porque vive a vida de todos os outros
Afinal, não vivemos todos a mesma coisa?
Talvez
Eu [indubitavelmente] queria ser ator.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Sobre a dor e o sofrimento - parte 2

Uma das citações mais verdadeiras e belas que conheço está em algum lugar, quando um homem sábio vivia e escrevia e disse que Deus pôs a eternidade no coração do ser humano. Não concorda comigo, leitor, que isso é belo demais? É profundo, é verdadeiro e faz eco na alma.

Nosso coração foi feito pra ser eterno, pra nunca se tornar pó e assim, sente eterno e tudo vive eternamente. E eu penso que nisso reside a explicação de todos os nossos sofrimentos.

Quando algo nos magoa, nos arranca lágrimas, noites de sono, dias de paz e nos faz sofrer, sofremos porque, em nosso íntimo não vislumbramos qualquer futuro sem aquela dor, que parece durar pra sempre, ser eterna.

Se ele não liga hoje, eu não consigo pensar: "Não vou sofrer porque amanhã ele ligará e essa tristeza vai acabar!" E, assim, efetivamente não sofrer. Você consegue? É capaz de não chorar doídas circusntâncias crendo que tudo passará? E nem lembrança disso mais terá?

E na mesma linha de raciocínio, é por isso também que nos frustramos, quando pensamos algo bom, prazeiroso, que toma nossos sorrisos e gargalhadas e inunda o corpo de endorfina, durará eternamente. No fim, percebemos que não é assim e, mais uma vez, sofremos.

E por essa mesma razão, observo pessoas presas a passados, ao presente ou a um futuro ainda fantástico, já que não ainda vivido, presas eternamente, sem do tal tempo conseguirem desvencilhar-se, sem conseguir ver qualquer outro tempo senão o que se vive.

"É o coração o culpado de tudo! Quem mandou ter a eternidade em si? Ou melhor, a culpa de tanto sofrimento é de Deus, que pôs a eternidade no coração. Quisera eu não tê-la em mim!", muitos podem pensar.

Termino esse tópico reiterando o que já disse anteriormente, sobre esperança. Se não tivéssemos a eternidade, que esperança teríamos, vendo tudo se desfacelar ao nosso redor? Não é exatamente a expectativa da eternidade, que gera frustração, que redunda em sofrimento, que se exaure em nos fazer esperar por algo melhor, o verdadeiro eterno?

Pra mim os suicidas são os pobres de quem lhes foi roubada a eternidade!

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

In(and out)side

O relógio toca uma vez, e cinco minutos depois toca de novo
Avisando que é o limite: é hora de comer cereal
Fazer a barba, colocar o disfarce e sair
As ruas cheias assistem a um vagar de muitos que automaticamente vão
Sem nem perceber que vão
E assim o dia começa, sem dar muita opção
Vários bom dias sem sentido, alguns com sentido
Falta de ligar o ar-condicionado pelas alergias alheias
Francês, português
E muita falta de significado
As horas vagam lentas, e a cada hora que passa mais lentas
e após várias delas são tchaus, até mais e au revoir
E é hora de tudo se americanizar, pois os ois e tchaus
agora são hellos e byes, nesse dia que ainda não terminou
E quando, após todo um cálculo de tempo de transporte,
ensaios e atuação de caras felizes e resolvidas,
Após um mundo de seres inventados que o dia fez atuarem
Há, às vezes, uns minutos de silêncio
Que fazem explodir alguém que se silenciou o dia todo,
o mês todo, o ano todo
Alguém que, sem conseguir chorar algumas lágrimas,
Só queria se explodir de cantar:
"It's a little bit funny, this feeling inside..."

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Sobre a dor e o sofrimento

É preciso compartilhar a tristeza desse fim de semana. Ontem gastei um tempo refletindo sobre o sofrimento humano e foi díficil pegar no sono lembrando de tantas pessoas que sofrem.

Uma amiga perdeu a filhinha tanto amada de uma maneira traumatizante...
Uma irmã tem 2 filhas, está grávida, prestes a dar a luz, o pai em um leito de morte e o esposo perdido nas ruas... Eu penso: que solidão!
Um conhecido que tinha tudo pra ser odiado recebe meu choro e compaixão por se ver enraivecido e amargurado tendo que enfrentar um câncer em estágio avançado... deve ser desesperador!
Na Austrália, longe daqui, pessoas morrem e famílias choram o fogo que consome.
E no Iraque, no Afeganistão...

... eu fico pensando nessa tal coisa do sofrimento, da dor.

Por vezes, parece-me infantil lamentar o passado e nele viver preso enquanto podemos viver o presente, sendo por ele gratos, e planejar o futuro, sabendo que ele está em nossas mãos e não somos apenas produto de uma sociedade que nos limita. Parece-me egoísta sofrer por dinheiro quando muitas outras coisas se tem e mesmo dinheiro não falta pra o essencial.

Por outro lado, o sofrimento e a dor, por serem tão pessoais e íntimos, parecem serem indignos de comparação e mensuração. Como posso dizer que fulana, que perdeu o esposo, sofre mais q beltrana, que não tem a roupa que quer? Não ter a roupa pode doer-lhe tanto, ou talvez mais, que a falta do esposo...

E sobre isso não tenho conclusão alguma. Nunca estudei os aspectos biológicos do sofrimento e nem mesmo questões inconscientes a ele relacionadas. Nunca sofri muito, ainda que tenha sofrido muito. Não conheço o futuro que pode chegar pondo à prova limites. Mas me envergonho de quem sou e de sofrer por minhas fúteis razões.

No entanto, o fim de semana triste me trouxe a conclusão da beleza do ser humano que se assemelha a Deus. A beleza de chorar junto com o outro e no próximo pensar, mais que em si mesmo. É doce ver sentimentos como compaixão e misericórdia fuírem lenta e naturalmente de corações distantes, frios e outrora amargurados.

E quanto a mim, muito pouco além disso me traz esperança e me aquece o coração. Só olhando pra dor humana e sentindo-se parte dela, não isolada como uma ilha, sou capaz de ver e viver Deus e experimentar um pouco do céu na Terra, enquanto espero o verdadeiro lugar de onde vim e para o qual fui feita.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Por quem os sinos dobram?

" NENHUM HOMEM É UMA ILHA ISOLADA. CADA HOMEM É UMA PARTÍCULA DO CONTINENTE, UMA PARTE DA TERRA; SE UM TORRÃO É ARRASTADO PARA O MAR, A EUROPA FICARÁ DIMINUÍDA, COMO SE FOSSE A CASA DO TEU AMIGO OU DA TUA PRÓPRIA CASA. A MORTE DE QUALQUER HOMEM DIMINUI-ME, PORQUE SOU PARTE DO GÉNERO HUMANO. E, SE DOBRAM OS SINOS, NÃO PERGUNTES POR QUEM DOBRAM OS SINOS - ELES DOBRAM POR TI." (John Donne)

Vida nova e longa ao blog

Meu Deus do céu, Nunca pensei que fosse tão difícil ressuscitar um blog!!!!!!!!!! Isso porque, de repente me deu uma vontade de escrever pro mundo!!!!!!! Na verdade eu já tive essa vontade algumas vezes e nunca a levei a sério, fazendo-a calar em mim. Dessa vez foi diferente! Quis falar e aqui estou, pertinente, postando.
O caminho até aqui já não foi fácil. Eu tinha esquecido meu nome de usuário, minha senha... E depois de muitas e recorrentes tentativas, consegui acessar!Há caminhos que são difíceis mesmo! E me parece que o caminho que estou percorrendo pra escrever novamente é apenas uma metáfora dos caminhos que escolhemos traçar na vida. Nos esquecemos de muitas coisas importantes, depois vários obstáculos surgem e que tarefa exaustiva e penosa pode se tornar persistir ...
Mas eu espero conseguir e, se possível, reanimar meus amigos blogueiros que parecem também terem se esquecido desse espaço. Eu espero persistir porque tenho experimentado, em minha vida, a excelência do poder das palavras e quero, por meio delas, compartilhar minha alma, com tranparência e sem máscaras, na doce expectativa de que elas tragam um pouco de vida, reflexão, riso, choro, diálogo e até mesmo silêncio, pra mim e pra aqueles que talvez leiam isso aqui.
Bem, é isso!