quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

A Cabana

Todo mundo tem certos preconceitos e eu não sou diferente. Os meus mais gritantes são contra o american way of life, sobretudo contra o cristianismo estadunidense, e contra best-sellers. No entanto, às vezes eles me surpreendem de um modo positivo. A surpresa mais recente é a ficção A Cabana, de William P. Young, publicado no Brasil pela Editora Sextante.
O livro se vendeu a mim quando li na contracapa o resumo e o comentário de um cantor que admiro muito. Esse comentário dizia: " Se você tiver que escolher apenas um livro de ficção para ler esse ano, leia A Cabana". Depois disso, decidi que o leria, pra começar o ano e mesmo não tendo ainda terminado a leitura, já o recomendo e já posso dizer que foi uma das maiores e melhores surpresas do começo de 2009.
A Cabana conta a história de um homem comum, um tanto quanto cético e sarcástico, que, após perder a filhinha brutalmente assassinada e não conseguir se livrar da decorrente "Grande Tristeza", é convidado, supostamente, por Deus, pra um encontro a fim de confrontar seu sofrimento e seus pensamentos.
O decorrer da história aborda questões essenciais à fé cristã como o sofrimento;a responsabilidade e/ou omissão do Deus bom diante da dor humana; o amor; a falsa independência que o ser humano tem e que de fato o aprisiona; a facilidade de julgarmos os outros centrados que estamos em nossos egos; e outros. E admira por tratar até de assuntos por vezes esquecidos no meio cristão, como a responsabilidade ecológica.
Mas mais do que falar sobre cristianismo, Deus, homem, sofrimento, Young constrói um diálogo inebriante sobre a morte e a vida. É, portanto, uma história que multiplica, que gera e regenera. E consegue fazer tudo isso de uma maneira profunda e ainda gostosa, mesmo não sempre leve. Afinal, falar e refletir a vida quase nunca é leve!
E como se o texo em si não bastasse para alimentar a alma e transmitir mensagens transformadoras, cada capítulo tem como entrada citações de autores famosos e deconhecidos que também constrangem a mente e o corpo.
Praqueles que, como eu, teem uma paixão pela teologia e, mais ainda, pela teologia cristã, proponho aqui a leitura conjunta de um outro livro, esse mais analítico e denso, só pros apaixonados mesmo, chamado "Deus em questão". Este último trata de muitos dos assuntos de A Cabana e a ela muito pode agregar. Reiterando, só para os apaixonados por teologia. Caso você,não tenha nenhum interesse por isso, mas tenha interesse pela vida e pelo amor e pela dor ou caso você, como eu, mesmo apaixonada por teologia, está à procura de algo leve e romântico, leia apenas A cabana e ela te suprirá.
Ao ler o livro, você pode querer devorá-lo, como fez uma amiga minha que o leu em apenas um dia, ou pode saboreá-lo em meio a risos, choros, conversas e silêncios. Mas de qualquer modo, creio que pode ser ao menos instigado pelas idéias do autor, muito coerentes.
O livro consegue ser ainda hilário com a perspectiva que o autor passa de Deus, o Deus Triuno, em figuras femininas. Mas ao retratar Deus como mulheres e ao explicitar outros comentários acerca dos benefícios que uma gestão feminina traria à Terra, desconfio de um envolvimento feminista ou quem sabe até de um pseudônimo do autor, do que discordo.
Acrescento que o livro carece de uma tradução melhor, cujos erros podem ser notados por qualquer mente com um pouco de conhecimento da língua inglesa. Mas aí, a culpa não é do livro, nem do autor!
Ademais, quando terminar minha leitura, talvez volte aqui e comente mais alguma coisa sobre isso. E desejo uma boa experiência àqueles que se arriscarem.
Uma última citação:


"A Terra, repleta de céu,

E cada arbusto comum incendiado por Deus,

Mas só aquele que vê tira os sapatos;

Os outros se sentam ao redor e colhem amoras."

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