terça-feira, 20 de outubro de 2009

Jabuticaba


Vou fazer uma consideração que pode parecer boba por um lado e dramática por outro. Mas não é pra ser nenhum nem outro. É apenas uma consideração mesmo.

Ficar grande é um saco. Seria bom ser criança pra sempre, mas não é assim que funciona. E por que é bom ser criança? Bem, todos nós sabemos que há inúmeros motivos e eu não vou falar sobre eles. Vou só escrever sobre o que pensei em escrever.

No twitter - aquela ferramenta péssima e viciante de comunicação - o Felipe Andreoli de vez em quando posta sobre ir à casa da vó dele. Vai lá despedir, vai lá dizer oi, vai lá almoçar de surpresa. Enfim, ele vai à casa da vó dele.

E há alguns dias estive pensando nisso. Que quando a gente é criança, no geral a gente tem mais gente de gerações anteriores na família. E o tempo vai passando e essas pessoas vão fazendo a grande passagem pra um lugar onde a gente não vai mais visitar.

Não se escuta uma pessoa um pouco mais velha dizer: fui à casa da minha vó comer pé-de-moleque no domingo. Mas é comum ouvir uma criança dizer isso (Claro que a parte do pé-de-moleque só lá no interior). Também é incomum alguém mais agé dizer que foi pra roça com o avô, ou pro jóquei, ou pra praça, ou pra missa. É natural, e se torna normal.

Acho que, de repente, percebi que das gerações anteriores, agora só estão presentes minha mãe e sua mãe - uma avó, por razões simples e não problemáticas, com quem eu não tenho tanta proximidade. Parece que as raízes ficam mais fracas, ou ao menos mais difíceis de se enxergar.

Parece que, de repente, eu virei adulto. E o estranho é que o futuro agora faz questão de querer ser mais importante que o passado. Fazer o quê, né?

Acho que estou com saudade dos pés de jabuticaba da casa dos meus avós...

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Algumas considerações


"Jerusalém, que bonita és..."
Sempre que venho à casa da minha mãe, fico olhando muito um quadro novo que colocamos na parede. É um quadro simples, de uma foto que ela trouxe recentemente de Jerusalém.
Mas eu posso ficar olhando a figura por horas. Há tanta coisa ali, tantas pessoas, tantos anos, tantas lembranças, algumas minhas, outras contadas por outros. Lembranças.
Nada mais me vem à mente do que uma vez que estive lá na véspera de Natal, rapidamente antes de ir a Belém. Jerusalém naquele dia brilhava inteira. As pedras brilhavam que nem ouro. E o clima estava assim como hoje, com um ventinho frio, mas o dia aceso. O sol vivo.
Os ventos frios sempre trazem lembranças. Sempre.
E isso me fez lembrar de outra coisa, uma música.
Há uns 10 anos alguns tios meus e uma prima foram pra Israel passear. E lembro que na época trouxeram uma fita K7 de um grupo que cantava uma música linda, chamada 'Aleluia'. Me disseram que era uma música que tinha ganhado um festival importante. E eu escutei essa música uma vez apenas.
Há 2 anos, em Israel, perguntei um dia para minha professora de hebraico sobre tal música e ela me indicou que música era pra eu procurar. Impressionante quando eu a ouvi: eu poderia contar toda a melodia da canção, 8 anos depois de tê-la ouvido uma vez. E espero que a memória dela fique eternamente na minha mente. É uma das canções mais bontias que já ouvi. Bonita pela simplicidade talvez. Não sei.
Eu só sei que dá pra lembrar de inúmeras coisas olhando uma foto de Jerusalém.

Cara B
Comprei antes de viajar um CD pra trazer. Eu compro poucos CDs, pois acho um pouco caro, mas acho o máximo comprar um álbum de alguém, comprar o trabalho que a pessoa fez e tê-lo em casa. Penso assim também dos livros.
E tem uns discos que são inacreditáveis. São obrigatórios.
Comprei Cara B, do Jorge Drexler. O cara é ótimo, o CD também. O show deve ter sido pra quem viu.
Deixo um trecho de uma canção:
"Quien no lo sepa ya lo aprenderá deprisa:
la vida no para, no espera, no avisa..."

A vida das coisas
Hoje em dia temos um discurso sério sobre como é incorreto dar valor demais às coisas. E eu concordo com esse discurso. As coisas não são, a princípio, nada. Não valem nada. São passageiras demais para valerem alguma coisa.
Mas estou aprendendo sobre como ficamos impregnados nelas. Como deixamos pedaços de nós espalhados pelos móveis, prédios, sons, sapatos, perfumes, comidas, silêncios.
Há um certo vazio no espaço que ocupo ultimamente, quando viajo para visitar família. E é curioso ver como as coisas trazem memórias. As coisas falam, assim como nós. Talvez mais que nós. Gritam, às vezes.
Talvez devamos dar mais valor a elas. Valor num bom sentido.
E hoje escutei um papo de amanhar começar a recolher as roupas que trazem lembranças, e dá-las. Nada mais justo. Mas nada mais triste. Tudo aquilo que esteve mais em contato com quem se foi agora também se vai. E logo vão outras coisas, e outras, e outras...
Mas as lembranças ficam.
Enquanto essa coisa que somos nós durar, elas durarão.
Nós somos também todos os outros em nós.