sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Feliz Dezembro!

Quando eu era criança, eu achava que o Natal era o mês todo de dezembro. E talvez tenha sido nessa época que eu comecei a gostar muito de Natal.
Não sei se eram os enfeites, a ideia dos presentes, os ensaios pras peças de teatro pra comemorar a época, os amigo-ocultos... ou se era tudo isso junto!
Só sei que eu me preparava, ensaiava as músicas que ia cantar no coralzinho da igreja, ficava vibrante esperando o dia da peça chegar, comprava canetas bic pra dar pra família (era a única coisa que meu dinheiro permitia comprar sem pedir muita ajuda alheia - mas eu comprava de cores diferentes pra cada membro da família: meu pai ganhava preta, minha mãe vermelha, meu irmão azul ou verde). Me lembrei agora do ano em que eu fiz um cofrinho num pote de margarina e pedi umas moedas pros meus pais, sem dizer pra que era. Claro, era surpresa. Adivinha o que fiz com o dinheiro arrecadado? Comprei umas canetas pra eles. E nesse ano a minha mãe ganhou uma caneta especial, com um ursinho na tampa! Show!
Eram os melhores Natais do mundo! Pois eram de verdade.
Claro que teve um ano em que eu fiz birra porque não ganhei o presente que queria. E era um truque. O presente estava comprado, mas fingiram a princípio que não. (Talvez nesse momento eu já tenha mostrado a pessoa ruim que eu era e sou. Mas ok, passou desapercebido como birra de criança).
Em algum certo momento eu descobri que o Natal era um dia só. (Momento de silêncio). Foi uma grande decepção. Muitas coisas precisaram se reconfigurar na minha cabeça. Mas ok, eu superei.
Continuei gostando demais do Natal!
Talvez pelas luzes, as novidades gastronômicas, o kitsch... ou talvez tudo isso junto!
Gosto de ir à igreja na noite de Natal. Pensar no momento que ele representa, na realidade do fato e nas metáforas possíveis. Nesse dia eu gosto de dizer obrigado.
Porém de um tempo pra cá, as coisas mudaram um pouco. Sinto um pouco de tristeza nessa época por pensar nos que estão longe e nos que estão bem mais longe. Mas, por outro lado, lembro dos momentos de Natal passados juntos. E nos sinos que tocaram no Natal de 2008 num dos momentos natalinos mais simples, sinceros e belos da minha vida, quando eu e meu pai estávamos sentados na varanda à meia-noite, em silêncio, os sinos da matriz tocaram e ele apenas disse: É Natal. E eu fiquei feliz. Muito feliz.
Mas o que mais me pesa ultimamente nessa época que ainda adoro é pensar como as igrejas a estão desprezando. Parece que não têm mais o que comemorar. Sinto como se declarassem falência.
Este ano fiquei sabendo que minha igreja não terá um culto de Natal. No ano passado já não houve no dia 24, apenas no 25. Esse ano será no dia 26, pra já aproveitar o dia, domingo, quando todos vão à igreja, talvez.
Acho que pensam que estar em casa comendo peru de Natal pode ser mais importante. Talvez possa. Mas eu ainda não acho. Me vieram com a justificativa de que dia 24 é o dia de estar com a família. Concordo. E também é o dia, pra mim, de dedicar um tempo para lembrar de um amor que eu jamais serei capaz de copiar.
Se eu posso lembrar disso em casa? Claro. Na rua também. No carro, no parque, na loja... Em qualquer lugar. Mas não entendo porque a igreja não quer mais lembrar e dedicar tempo pra um momento tão especial na sua crença. E na sua base.
Não entendo.
Falência? Penso que talvez. E isso me deixa preocupado.
Ainda bem que o amor é algo que mora no coração de cada um e não em um prédio ou em uma instituição. E ainda bem que a igreja somos nós e não um prédio, uma instituição, uma liderança terrena ou uma opinião de alguns ou de vários.
Ainda bem.
Pois eu sei que com culto ou com as portas fechadas da igreja, sabendo que o primeiro Natal não necessariamente aconteceu num dia 25 de dezembro, entendendo que essa comercialização dos fatos está desconfigurando o mundo... Ainda assim eu sei que uma estrela apareceu no céu sobre uma pequena cidade há mais de 2000 anos pra mostrar que a salvação chegou. E está entre nós!
Feliz Dezembro!

domingo, 26 de setembro de 2010

Toda saudade é um cais

Eu não imaginei que pudesse ser tão difícil levantar de uma mesa de um café
E deixar pra trás tantos outros cafés e papos e dias e noites
E histórias e contos e causos e sons e silêncios
E risos e choros
E você
E eu

"Todo cais é uma saudade de pedra"
Toda saudade é um cais
Todo barco é parte de um cais
Uma parte que vai embora
Talvez todos nós sejamos partes de um cais
Uma parte que deixa o barco ir

Talvez me falte uma âncora
Talvez a vida seja mesmo cheia de cais

[silêncio]

"Todo cais é uma saudade de pedra".

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

"Que tem o inefável comigo?"

Alguém um dia perguntou por aí: "Que tem o Inefável comigo?"
Pois eu faria a mesma pergunta. Afinal, por que tanta falta de palavras para descrever a complexidade da simplicidade de tudo?
O que é que quer o inefável comigo?
Talvez não haja, na verdade, falta de palavras. Talvez elas apenas tomem outra proporção e por isso precisem de outra forma de organização: em cinco linhas, lidas de baixo pra cima, com possibilidade de extensões pra cima e pra baixo.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

E se a primavera chegar...


E se a primavera este ano chegar sem flores?
Talvez então seja o tempo de plantar.
Às vezes o vento é forte e a primavera chega ainda com um certo frio do inverno.
Mas as estações continuam mudando, sempre. Cada uma depois da outra.
Às vezes se misturando umas com as outras.
Talvez seja tempo de se esforçar.

E se a primavera este ano chegar sem folhas?
Talvez seja sinal de que no próximo outono pouco há de cair.
Talvez seja o sinal de que as coisas começam a se manter
Pra depois renascer.
Talvez.

E se a primavera este ano chegar sem troncos?
Pode ser indicação de que é hora de migrar.
As árvores não migram; elas têm troncos.
Talvez seja tempo de seguir o vento e recriar.
Verdejar.
Até parar por aí
Se for mesmo necessário parar
Antes da próxima primavera.

E se a primavera este ano chegar sem raízes?
Bem...
Sem raízes não é possível nem ficar, nem caminhar, nem recomeçar.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Em poucas palavras...

Eu acordo e olho pros lados pensando no que devo fazer
Abro a janela, a cortina e preparo o café
Forte, quente e começo o dia
Penso em ler algo que deveria ler
Não leio
Às vezes leio outra coisa também, de certa forma, importante
Leio nesta e em outras línguas
Leio
Cantarolo algo aparentemente sem sentido
Nesta e em outras línguas
Olho para o piano que eu deveria tocar e não toco
Não sei
Aquela é uma língua já difícil demais pra mim

Penso no parque
Não vou
Penso na piscina
Não vou
Às vezes vou pra um deles
No geral não vou

Penso
Repenso
Desisto
E penso algo diferente
Cantarolo algo novo
Crio no meio do cantarolar
E paro
Penso de novo

Me arrumo
Às vezes demoro
Às vezes não
Cantarolo algo no banho
Mas não gosto muito de cantarolar no banho
Penso na roupa
Às vezes não penso
Penso no relógio
Nele sempre penso

Caminho até o metrô
Cantarolando algo bem alto
Cantarolo no metrô também
Saio, ando, desço, subo, paro, vou, volto
Chego

Entro

Começo

Cumprimento

Sorrio

Ando pelas escadas
Elevadores
Cantarolando alguma coisa cult
Às vezes é preciso ser cult
Como
Olho pela janela e esqueço de tudo
Lembro de novo

Digito
Leio
Atendo
Ligo
Crio problemas
Criam problemas
Resolvo
Às vezes não resolvo
Chamo pelo rádio
Escuto resposta
Às vezes não escuto
Me xingam
Tento ser educado
Às vezes não sou
Normalmente sou
Desligo
Cantarolo algo em outra língua bem distante
Assim ninguém entederá
Algumas poucas pessoas sim
Mas poucas
Sempre são poucas pessoas que entendem qualquer de nossas línguas
Mesmo se for a mesma delas
Desisto

Recomeço

Sorrio

Recebo pessoas

Sorrio

Faço a introdução de algo que vai começar
Algo começa

Sorrio

Paro

Saio
Ouço silêncio

Desço

Volto

Encerro

Saio
Às vezes encontro uma pessoa especial
Às vezes não

Refaço uma rotina já dita antes
Mas ao contrário
Não cantorolo

Desisto

Chego

Tiro os sapatos

Deito virado para o lado oposto da cama

E percebo que cantarolar é a coisa mais de verdade que eu faço na minha vida
Mas só eu acredito nisso

...
Durmo

terça-feira, 24 de agosto de 2010

A vida

Tem dias que são dias estranhos e a gente nem sabe direito o porquê.
Hoje eu acordei escutando tudo muito alto. O barulho dos carros na rua estava altíssimo, os aviões passando pareciam que iam cair no meu prédio, os passos das pessoas estavam muito altos, enfim, tudo estava gritando.
Deu vontade de gritar.
Mas depois de ir à padaria, voltar pra casa e tomar café da manhã com calma, isso passou. Mas era apenas o começo do dia. Dia que não foi ruim. Foi um dia normal de trabalho sem nada de mais nem de menos.
E às vezes nesses dias normais é que a gente percebe o quanto a vida pode parecer vazia.
A gente percebe que os planos [e, às vezes, os maiores planos] ficarão mesmo sendo apenas planos. E que os fatos continuarão sendo fatos.
Nem sempre é fácil olhar pra vida. Nem pra nossa nem pra dos outros.
Vida.
Ruim? Não, não disse isso.
Disse sem graça.
Às vezes muito sem graça.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

A rua das rimas


Eu hoje, agora há pouco, vi este poema na parede de fora do Museu Afro-Brasil. Achei muito legal e decidi copiar aqui na parede desse blog.

A rua das rimas
A rua que eu imagino, desde menino, para o meu destino pequenino
é uma rua de poeta, reta, quieta, discreta,
direita, estreita, bem feita, perfeita,
com pregões matinais de jornais, aventais nos portais, animais e varais nos quintais;
e acácias paralelas, todas elas belas, singelas, amarelas,
douradas, descabeladas, debruçadas como namoradas para as calçadas;
e um passo, de espaço a espaço, no mormaço de aço laço e basso;
e algum piano provinciano, quotidiano, desumano,
mas brando e brando, soltando, de vez em quando,
na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala;
e, no ar de uma tarde que arde, o alarde das crianças do arrabalde;
e de noite, no ócio capadócio,
junto aos lampiões espiões, os bordões dos violões;
e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que me mata...);
e depois o silêncio, o denso, o intenso, o imenso silêncio...
A rua que eu imagino, desde menino, para o meu destino pequenino
é uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer
é uma rua, como todas as ruas, com suas duas calçadas nuas,
correndo paralelamente, como a sorte indiferente de toda gente, para a frente,
para o infinito; mas uma rua que tem escrito um nome bonito, bendito, que sempre repito
e que rima com mocidade, liberdade, tranqüilidade: RUA DA FELICIDADE...

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Saudades...

Eu hoje não consigo deixar de pensar em alguém. Alguém que fez parte - de perto e de longe - de 25 anos da minha vida.
Alguém, na verdade, que continua fazendo parte. Mas agora apenas de longe.
Perto ainda, de certa forma, porém apenas nas memórias, nas influências, e nos traços que ficaram gravados por toda parte.

Cada vez que eu vejo um caminhão simpático, uma roça, uma broa de fubá... Cada vez que eu vejo simplicidade em alguém ou em algo... Cada vez que eu escuto ou conto uma piada ruim... Cada vez que eu vejo alguém que confia em Deus... Cada vez que eu vejo o céu de Minas Gerais...

Em cada uma dessas coisas eu vejo, de alguma forma, esse alguém. Esse alguém que não sai da minha cabeça hoje.

Há um ano esse alguém foi viajar. E deixou saudades aqui.

Sinceramente, sempre soube que sentiria saudades quando ele partisse.
Mas nunca imaginei que seriam tantas.


"Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já...

Saudade é amar um passado que ainda não passou,
é recusar um presente que nos machuca,
é não ver o futuro que nos convida...

Saudade é sentir que existe o que não existe mais...

Saudade é o inferno dos que perderam,
é a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte na boca dos que continuam...

Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:
aquela que nunca amou.
(...)"

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Carta


"Há muito tempo, sim, não te escrevo.
Ficaram velhas todas as notícias.
Eu mesmo envelhecí: olha em relevo
estes sinais em mim, não das carícias
(tão leves) que fazias no meu rosto:
são golpes, são espinhos, são lembranças
da vida a teu menino, que a sol-posto
perde a sabedoria das crianças.

A falta que me fazes não é tanto
à hora de dormir, quando dizias
“Deus te abençoe”, e a noite abria em sonho.

É quando, ao despertar, revejo a um canto
a noite acumulada de meus dias,
e sinto que estou vivo, e que não sonho."

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Reticências


Eu ia falar de um sonho que tive. Mas acho que não quero mais escrever sobre ele. Só vou dizer que foi muito bonito e deixou claro que eu estou morrendo de saudades de algumas pessoas queridas.
Mas eles devem estar numa festa tão grande juntos que o que eu preciso é ficar contente, pela felicidade deles.
:)

sábado, 19 de junho de 2010

"Things are never quite as scary when you've got a best friend"


Hoje um ser pequeno e gordinho virou apenas memória. Depois de 13 anos de amizade, virou memória. Como diria Emília, piscou pela última vez.
Foi um grande amigo desde o começo, sempre levado, brincalhão, bagunceiro e comilão. Foi ficando velhinho, até que se tornou mais quietinho, menos brincalhão, mas com o mesmo olhar desde o começo. Aquele olhar de sinceridade que tem os cachorros. Aquele olhar que falta a quase todos os humanos.
Depois de uma semana mais fraquinho, hoje foi passear por outros lados. Fazer xixi em outros postes.
Fico imaginando ele chegando do outro lado, com aquele cara de desconfiado, e, surpreso, vendo o seu Tio Lázaro, que gostava tanto dele, dizendo: "meu preto, você veio..."
Acho que eu queria estar nessa festa também, viu.
O lado de cá da eternidade tem umas saudades que parecem eternas, viu.
Se tem uma coisa que eu descubro mais e mais a cada dia, é que tudo tem seu fim.
Normal. Mas ao mesmo tempo, é a coisa mais inacreditável pra mim.
Acho que eu pensava que tudo era pra sempre.

Rest in peace, my beloved ones.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Far Far

"Far far, there's this little girl
She was praying for something to happen to her
Everyday she writes words and more words
Just to speak out the thoughts that keep floating inside
And she's strong when the dreams come cos' they
Take her, cover her, they are all over
The reality looks far now,
but don't go

How can you stay outside?
There's a beautiful mess inside
How can you stay outside?
There's a beautiful mess inside

Far far, there's this little girl
She was praying for something good to happen to her
From time to time there are colors and shapes
Dazzling her eyes, tickling her hands
They invent her a new world with
Oil skies and aquarel rivers
But don't you run away already
Please don't go

How can you stay outside?
There's a beautiful mess inside
How an you stay outside?
There's a beautiful mess inside

Take a deep breath and dive
There's a beautiful mess inside
How can you stay outside?
There's a beautiful mess
Beautiful mess inside

Far far there's this little girl
She was praying for something big to happen to her
Every night she hears beautiful strange music
It's everywhere, there's nowhere to hide
But if it fades she begs
'Oh lord don't take it from me, don't take it'
I guess I'll have to give it birth

There's a beautiful mess inside and it's everywhere
Just look at yourself now
deep inside
Deeper than you ever dared
Deeper than you ever dared
There's a beautiful mess inside"

quarta-feira, 28 de abril de 2010

(Sem título, hoje)

"Eu ando pelo mundo prestando atenção em cores que eu não sei o nome..."
E eu não tenho gostado das cores que eu tenho visto. Nem das que tenho visto em mim nem nos outros.
É tanta diferença, tanta diferença. Tanto eu em mim.
É tanta gente precisando de comida, de roupa, de um abraço, de amor. De algum amor. "Qualquer amor".
Eu sofro por dentro ao pensar nas pessoas que estão por aí sem casa, mas principalmente sem lar. Sem uma memória boa de alguém pra amar. Sem a imaginação de qualquer porto pra ancorar.
Pessoas para quem a esperança já foi a última a morrer. E não restou mais nada.
E, mesmo assim, não consigo fazer nada. Sofro por elas, mas não com elas. Ou seja, não faço nada.
Alguém aceita me dar a mão, me puxar e me fazer mudar esse mundo?

sábado, 3 de abril de 2010

"And in time we will all be stars..."


Sabe o que tenho notado? Que a vida só anda pra frente. Por mais que a gente deseje parar, ela não para. Voltar seria mesmo ótimo, mas nem isso seria necessário. Parar já seria um alívio. Impossível.
E, como eu li em um belo blog ontem, "não adianta querer as coisas que não existem." Triste realidade. Real realidade.
Então só nos resta andar pra frente também. Puxados, arrastados, ou seja lá como for, mas pra frente.
Dizem que, por fim, isso faz bem.
Talvez se tivéssemos a opção de ficar parados seria pior. Não sei. Realmente não sei. Eu acho que correria o risco. Ah, correria... só o risco. Pois correr é um verbo que eu gostaria de eliminar.
A vida corre demais. E minhas pernas nem sempre acompanham.
Acho que preciso me exercitar mais pra viver. Ganhar fôlego e retomar o caminho.
Talvez desenhar um novo caminho e tomá-lo, pela primeira vez.
Tenho olhado muito pelo retrovisor e tenho visto tanta coisa, tanta estrada. E nessa estrada cheia de neblina que está a minha frente, parece que vai chegar um cruzamento. As placas já indicaram.
Eu ainda não sei qual direção tomar. Meus mapas só iam até o último kilômetro que passou. Logo, logo será hora de desenhar a próxima curva e seguir. Pra dentro da neblina pra descobrir o outro lado.
Alguns dizem que o novo pode ser muito bom, e até mesmo muito melhor que o que tínhamos. Pode mesmo! Não sou pessimista em relação a isso, como vários pensam.
Mas sei que as estradas até aqui são difíceis de deixar.
Acho que no próximo cruzamento vou parar, desligar o carro, descer e seguir.
A pé e descalço.

terça-feira, 16 de março de 2010

Deus e ele, no sertão

Em julho do ano passado estava no ar a novela Paraíso. E alguém que gostava muito de assisti-la não chegou a ver seu final. Hoje eu lembrei da música tema, que tem tudo a ver com essa pessoa.

Hoje deve ser a realidade dele, numa casa simples, uma rede e um ribeirão, junto a Deus, no sertão.

"Nunca vi ninguém
Viver tão feliz
Como eu no sertão

Perto de uma mata
E de um ribeirão
Deus e eu no sertão

Casa simplesinha
Rede pra dormir
De noite um show no céu
Deito pra assistir

Deus e eu no sertão

Das horas não sei
Mas vejo o clarão
Lá vou eu cuidar do chão

Trabalho cantando
A terra é a inspiração
Deus e eu no sertão

Não há solidão
Tem festa lá na vila
Depois da missa vou
Ver minha menina

De volta pra casa
Queima a lenha no fogão
E junto ao som da mata
Vou eu e um violão

Deus e eu no sertão"

domingo, 14 de março de 2010

Hermana Duda

"No tengo a quien rezarle pidiendo luz,
Ando tanteando el espacio a ciegas.
No me malinterpreten,
No estoy quejándome.
Soy jardinero de mis dilemas.

Hermana duda,
Pasarán los años,
Cambiarán las modas,
Vendrán otras guerras,
Perderán los mismos
Y ojalá que tú
Sigas teniéndome a tiro.

Pero esta noche, hermana duda,
Hermana duda, dame un respiro.

No tengo a quien culpar
Que no sea yo,
Con mi reguero de cabos sueltos.
No me malinterpreten,
Lo llevo bien,o por lo menos
Hago el intento.

Hermana duda,
Pasarán los discos,
Subirán las aguas,
Cambiarán las crisis
Y pagarán los mismos
Y ojalá que tú
Sigas mordiendo mi lengua.

Pero esta noche, hermana duda,
Hermana duda, dame una tregua.

Hermana duda,
Pasarán los años,
Cambiarán las modas,
Vendrán otras guerras,
Perderán los mismos
Y ojalá que tú
Sigas teniéndome a tiro.

Pero esta noche, hermana duda,
Sólo esta noche, dame un respiro."

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Aquelas curvas de São João del-Rei

Pegar estrada é pensar na vida
É pegar caminhos sem saber chegar
Pegar as curvas do meu cancioneiro
E nesses atalhos tentar te encontrar

Lembrar de quando indo pra São Paulo
A neblina veio de manhã falar
Que o sol só nasce quando a noite acaba
E que os seus faróis é que vão me guiar

E o que eu quero é ter na lembrança
Aquela sensação de te ouvir chegar
Depois de um longo dia de andanças
Com histórias pra contar

Um dia desses, guiando sozinho
Escutei um som de algo que eu eu nem sei
Lembrei de quando guiamos em silêncio
Por aquelas curvas de São João del-Rei

Os carros passam, uns deles buzinam
Não me importo muito, só sei que eu freei
Pra dar um tempo, conferir caminho
E lembrar das memórias que eu com você criei

E eu adoro ter essa lembrança
Daquela sensação de te ouvir chegar
Queria mesmo suas esperanças
Que eu não soube copiar

Abrir porteiras, passar mata-burros
Desatolar carros, acho que aprendi
Que ser caipira é sentir orgulho
Da estrada de terra que havia em ti

Hoje eu espero um Belo Horizonte
Que depois da serra sei que vai surgir
Sei que não voltas, mas sigo guiando
Pois tenho seus mapas pra poder seguir

E o que eu mais quero é ter na lembrança
Aquela sensação de te ouvir chegar
E hoje eu parto pras minhas andanças
Por aí vou me encontrar...

sábado, 23 de janeiro de 2010

Hoje, sem título

Há alguns momentos na vida em que o que a gente mais deseja é voltar o tempo ou acelerá-lo. Em que tudo o que a gente menos deseja é o presente. Pena que, assim, o momento mais real que temos - o presente - é desperdiçado. E a vida não para. Nunca.
Hoje acordei com a certeza da necessidade de fugir, de ir embora, pra sempre. Mas pra onde?
Num mundo tão grande parece que faltam opções. Faltam por motivos que podem ser enumerados, mas motivos que não quero enumerar.
Entendi que estou no lugar errado, na hora errada, fazendo a coisa errada.

Ontem fui a um show fantástico, mas mais um vez notei o quanto é sofrível pra mim fazer isso. Sempre. Fica sempre a beleza do show a minha frente, e uma dor vazia imensa por dentro.
Qual seria melhor: não ir mais e, assim, perder a beleza, ou ir e, assim, sentir a dor vazia? Não sei.

Acho que continuo querendo apenas fugir pra dentro dos meus fones de ouvido, como faço agora. Acabei de perceber que a música já acabou faz um tempo, mas eu continuo com eles.
Acho que eles fecham a porta pra dentro de mim.

Mas eu queria fugir pra fora.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Y hoy te extraño en español...

Hoje fico com algumas palavras do uruguaio Jorge Drexler, que expressão bem o que eu quero dizer.

"Dove sei?

Dove sei(...)? Dove vai?
¿Dónde será que estás ahora
en este instante?
¿En cuál de tus varios mundos distantes?

Cause you come and you go
You go and I wait,
I wait and you move,
you move and I come..."

"730 días

No hay rincón en esta casa
que no te haga regresar.
Cada grano de memoria
y la casa es un arenal."

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Começa o ano...


Começa mais um ano, depois de vários que já passei e depois de inúmeros que já se passaram nessa eternidade do universo. Falamos sempre como se a eternidade tivesse tempo. Sempre.
Fazemos tantos planos para uma simples troca de dias no calendário, como se houvesse alguma diferença real entre essa noite e todas as noites que se colocam na metade de dois dias. Sucessão interminável.
Colocamos flores brancas no mar...
Precisamos sempre de começos e fins. Aprendemos a viver assim. Apenas assim.
E, mesmo assim, não nos conformamos quando algumas coisas terminam. Ciclos sem fim. Que nos guiarão.
Nessa imensidão somos nada mais que uma gota de luz na idade do céu. E, como as estrelas, brilhamos e nos vamos. Nos calamos.
Somos apenas memórias.
Tudo tem seu fim. E ao mesmo tempo não. As coisas continuam a existir em nós, enquanto existirmos.
Somos somas de todas as cores: silêncio.
Cabe um universo em nós. Dentro do peito. Peito que às vezes parece pequeno pra tanto universo.
E eu olharei a sua fotografia na minha carteira...
E mesmo sem planos, tudo quer se renovar.
É que começa um novo ano... No calendário imaginário da eternidade que se prendeu no tempo pra nós.
Que seja Feliz o Ano Novo.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Sei lá... a vida tem sempre razão

"Tem dias que eu fico pensando na vida
E sinceramente não vejo saída
Como é por exemplo que dá pra entender
A gente mal nasce e começa a morrer
Depois da chegada vem sempre a partida
Porque não há nada sem separação

Sei lá, sei lá
A vida é uma grande ilusão
Sei lá, Sei lá
A vida tem sempre razão

A gente nem sabe que males se apronta
Fazendo de conta, fingindo esquecer
Que nada renasce antes que se acabe
E o sol que desponta tem que anoitecer
De nada adianta ficar-se de fora
A hora do sim é o descuido do não

Sei lá, sei lá
Só sei que é preciso paixão
Sei lá, sei lá
A vida tem sempre razão"