terça-feira, 24 de agosto de 2010

A vida

Tem dias que são dias estranhos e a gente nem sabe direito o porquê.
Hoje eu acordei escutando tudo muito alto. O barulho dos carros na rua estava altíssimo, os aviões passando pareciam que iam cair no meu prédio, os passos das pessoas estavam muito altos, enfim, tudo estava gritando.
Deu vontade de gritar.
Mas depois de ir à padaria, voltar pra casa e tomar café da manhã com calma, isso passou. Mas era apenas o começo do dia. Dia que não foi ruim. Foi um dia normal de trabalho sem nada de mais nem de menos.
E às vezes nesses dias normais é que a gente percebe o quanto a vida pode parecer vazia.
A gente percebe que os planos [e, às vezes, os maiores planos] ficarão mesmo sendo apenas planos. E que os fatos continuarão sendo fatos.
Nem sempre é fácil olhar pra vida. Nem pra nossa nem pra dos outros.
Vida.
Ruim? Não, não disse isso.
Disse sem graça.
Às vezes muito sem graça.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

A rua das rimas


Eu hoje, agora há pouco, vi este poema na parede de fora do Museu Afro-Brasil. Achei muito legal e decidi copiar aqui na parede desse blog.

A rua das rimas
A rua que eu imagino, desde menino, para o meu destino pequenino
é uma rua de poeta, reta, quieta, discreta,
direita, estreita, bem feita, perfeita,
com pregões matinais de jornais, aventais nos portais, animais e varais nos quintais;
e acácias paralelas, todas elas belas, singelas, amarelas,
douradas, descabeladas, debruçadas como namoradas para as calçadas;
e um passo, de espaço a espaço, no mormaço de aço laço e basso;
e algum piano provinciano, quotidiano, desumano,
mas brando e brando, soltando, de vez em quando,
na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala;
e, no ar de uma tarde que arde, o alarde das crianças do arrabalde;
e de noite, no ócio capadócio,
junto aos lampiões espiões, os bordões dos violões;
e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que me mata...);
e depois o silêncio, o denso, o intenso, o imenso silêncio...
A rua que eu imagino, desde menino, para o meu destino pequenino
é uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer
é uma rua, como todas as ruas, com suas duas calçadas nuas,
correndo paralelamente, como a sorte indiferente de toda gente, para a frente,
para o infinito; mas uma rua que tem escrito um nome bonito, bendito, que sempre repito
e que rima com mocidade, liberdade, tranqüilidade: RUA DA FELICIDADE...