domingo, 24 de novembro de 2013

Espelho sem moldura / ou Moldura sem espelho

Tem dias em que ao olhar no espelho
Eu vejo os meus cabelos ficando grisalhos
E fico imaginando o dia em que eles estarão todos cinzas
E em que eu, mais chato, serei mais brando
mais sincero, serei mais calmo,
mais austero, serei mais complacente
O dia eu que eu serei diferente
E ao mesmo tempo, o dia em que eu me lembrarei da infância
E não terei medo do futuro
Do futuro certo e do incerto
Se é que há um futuro certo
E se é que há um futuro incerto

Tem dias em que ao olhar no espelho
Eu vejo os dias que não aconteceram
E vejo que o tempo só passa na imaginação dos tolos
De todos nós, tolos,
e continua e continuará a passar

Tem dias em que ao olhar no espelho
Eu apenas vejo o espelho.