sábado, 29 de agosto de 2009

Parte de uma conversa boa...

Tenho pensado muito que o corpo é uma prisão perigosa. Precisamos dele pra aproveitar as coisas boas desse mundo, mas gostamos demais dele. E damos ênfase demais a ele e não a nós mesmos, à nossa alma.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

(A)normal

"Eu hoje tive um pesadelo e levantei atento, a tempo
Eu acordei com medo e procurei no escuro
Alguém com seu carinho e lembrei de um tempo
Porque o passado me traz uma lembrança
Do tempo que eu era criança
E o medo era motivo de choro
Desculpa pra um abraço ou um consolo
Hoje eu acordei com medo mas não chorei
Nem reclamei abrigo
Do escuro eu via um infinito sem presente
Passado ou futuro
Senti um abraço forte, já não era medo
Era uma coisa sua que ficou em mim, que não tem fim
De repente a gente vê que perdeu
Ou está perdendo alguma coisa
(...)
Que vai ficando no caminho
Que é escuro e frio mas também bonito
Porque é iluminado
Pela beleza do que aconteceu
Há minutos atrás."

Amanhã será um mês sem você. E logo um ano, cinco anos, uma década, e várias décadas.
A gente se prende a momentos marcados no tempo que, por algum motivo, significam algo. Uma contagem estranha de tempo, que faz alguns dias serem mais fáceis ou mais difíceis. Ou apenas normais.
Tempo é algo que você não vive mais. Já se libertou dessa prisão, que não é perpétua para ninguém.
Será estranho, daqui há várias anos, quando eu ainda for relativamente jovem, dizer: "Ele já se foi há 30 anos". Para quem escuta isso sempre soa como algo que já virou normal. Mas tenho receio de que o sentimento será sempre o mesmo de agora, que faz um mês.
30 anos serão apenas uma sucessão de meses. Meses de uma vida que continua, cheia de coisa pra acontecer.
Mas uma vida diferente. Uma vida readaptada. Uma vida com curativo, vida que vai ser cicatrizada.
E não é assim com todo mundo?
Estranho como algo tão normal pode ser tão anormal.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

"Sí, hay salida". ¿Hay?

Se tivéssemos realmente a noção de como tudo é passageiro e rápido, viveríamos outra vida, completamente diferente, antes de levantar voo.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Estou de licença

Eu decidi tirar licença
Licença poética
Pra falar o que eu quero e falar o que eu penso
E f%$#-se quem não gostar
Isso é problema seu
E a boca é minha
E nem sei quanto tempo vai durar
Eu mesmo é que vou determinar quando termina a licença
E se você não gostar
Isso é problema SEU.

sábado, 15 de agosto de 2009

Um barco à deriva


"Tanta lágrima, tanta lágrima y yo
Soy un vaso vacio
Oigo una voz que me llama
Casi un suspiro
Rema, rema, rema..."

A canção de Jorge Drexler fala de alguém que crê ter visto uma luz ao outro lado do rio e, por isso, se sente chamado a remar, mesmo que a luz seja fraca, que o chamado seja quase um suspiro.
Eu ainda não vejo a outra margem do rio, ainda não sei pra onde remar.
Ouço uma voz que me chama, quase um grito, dizendo pra remar. Mas pra remar pra longe, pra cair no mar e me perder. Mudar de direção, de nome, de águas.
Essa vida tem sido cheia de ondas. Acho que estou precisando de um porto pra ancorar.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

"Nosso céu tem mais estrelas"

Dia dos pais
Ontem foi meu primeiro dia dos pais sem pai. Experiência estranha. Embora ele esteja presente em tanta coisa pra qual eu olho, não foi mais possível desejar a ninguém felicidades nesse dia. E nem mais será. Estranho. A morte muda até o calendário.
Só acho que eu não precisava ter me atrevido a ver parte do Programa do Didi. Bem nesse dia o Pe. Fábio de Melo decidiu cantar "Pai", de outro Fábio (o Junior). E nada mais emotivo nessas situações do que um cantor brega cantar algo tocante, não é mesmo?!

Ilusão
A nossa mente é algo inexplicável pra mim. Só ela pra criar realidades em cima de coisas não existentes, de verdade. E entre essas coisas não existentes incluo o tempo e a vida. São apenas ilusões. Ilusões tornadas reais pelo esforço maldoso da nossa mente cruel.
E ultimamente tenho pensado, embora não refletido muito, sobre a realidade - ou não - da morte.
Digamos que eu estivesse num país de difícil comunicação, longe de casa, e não soubesse da morte do meu pai. Digamos que se passassem uns dois anos antes que eu voltasse a ter contato com a minha família e soubesse do acontecido. Na minha mente, ele estaria vivo. E mesmo depois de saber do fato após uns dois anos, esse tempo em que ele esteve vivo na minha mente continuaria tendo sido um tempo de vida pra ele - segundo a minha mente. E qual realidade seria real? Pra ele, a morte teria chegado no momento em que saiu do corpo. Pra mim, a morte dele teria chegado dois anos depois. O que é mais verdadeiro?
Tudo é mesmo como correr atrás do vento. É ilusão, é vão. Ou não.

"And in time we will all be stars"
Hoje à noite fui levar o cachorro pra passear, como tenho feito. Ele com as pernas (patas) já fracas pela idade. Eu com as pernas fracas por outros motivos.
Fui andando com o cachorro e, de repente, me deparei com o céu. Fiquei ali, parado, olhando pra cima. Deu vontade de ficar assim pra sempre. Só olhando, olhando, imaginando, ou não pensando nada. Só vendo as estrelas. E então vi uma estrela em específico. Mais brilhante que as outras. E de forma estranha imaginei ele olhando pra mim daquela estrela. Que ele não está lá eu sei. Mas foi tão estranho. Me deu um pouco de vontade de chorar, mas, principalmente, me deu vontade de sorrir. Vontade que me fez sorrir. Sorrir com vontade de chorar. E eu fui andando, e aquela estrela me seguindo. Eu não estava mais olhando pra ela, mas sentia ela olhando pra mim.
E pensei que ele poderia estar lá, num planeta só dele. Talvez um planeta tão pequeno quando o do Pequeno Princípe. Talvez um planeta grande. E talvez nos tornemos realmente eternamente responsáveis por aquilo que cativamos.
"Tu seras pour moi unique au monde."
E parafraseado alguém, eu fiquei debaixo de uma laranjeira, sonhando com as estrelas.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Sei lá

Depois de um tempo aqui parado pensando em como escrever o que quero escrever, percebo que é melhor nem escrever nada.
Vontade de fazer o tempo voltar. Vontade de fazer a vida ser que o não é. Vontade de mudar as coisas. Vontade de ter algum poder.
Acho que somos um barco à deriva.
Acho que vou dormir. Estar acordado dá trabalho demais.

domingo, 2 de agosto de 2009

Coração vestido de preto

É estranho estar com o coração vestido de preto
O horizonte ficou tão diferente, talvez mais distante
Todas as cores estão mais parecidas, menos fortes e brilhantes
E as horas parece que seguem ainda um ritmo próprio que não corresponde a nada
Nada que eu conhecia

É estranho estar com o coração vestido de preto
E sentir um frio na barriga que não se explica por si só
Não é de medo, nem de ansiedade, nem de frio, nem de fome
Não é
É como se fosse possível sentir um vazio passeando pelo corpo
Uma hora está na cabeça, outra no peito, outra nas pernas trêmulas, outra no corpo todo

E você anda pela rua vendo que tudo continua igual
E as pessoas continuam suas vidas
Riem seus risos, beijam, brigam, sofrem, nascem e morrem
Mas os meus olhos estão diferentes
Tão diferentes

O dia pode nascer com chuva, com sol, nublado, claro
Tudo parece mais igual
O dia e a noite estão bem parecidos
Bem parecidos

É estranho estar com o coração vestido de preto