domingo, 21 de abril de 2013

As tardes de domingo do interior.

Eu não gosto dos domingos no interior. Eles me trazem uma calma que não é minha, mas que me lembra você. Um vento perto das seis horas da tarde, e todo o espectro de cores atrás da montanha. E eu vejo você. E o vento continua até perto das sete horas da noite. E eu já não vejo você, mas eu sinto você. E então eu escuto algumas notas menores do lado direito do peito. Tentando passar para o lado esquerdo. Mas eu não deixo. Eu levanto, e caminho, e olho no espelho, e penso em você. Lembro das coisas erradas que você trazia do supermercado. Das bolachas de chocolate que chegavam de morango. Dos chocolates amargos que chegavam doces. Das margarinas mais caras. Lembro do garfo segurado de uma maneira errada. Eu deveria ter me divertido mais com tudo isso. Lembro do seu olhar distante e melancólico e simples. E lembro da saudade que você sentia da sua mãe. Lembro novamente do seu olhar melancólico, que só os nossos cachorros conseguiram copiar. Pois só os seres bons conseguem copiar de verdade os outros seres bons. E eu passo um café. E sinto aquele cheiro idoso de Perdões. Aquele cheiro de domingo depressivo, daquele vento de outono com barulho de semente sendo pisada no chão. Aquele cheiro de voltar pra casa pra ir pra igreja sentindo completude no coração. E eu olho pro céu que já escureceu e pra montanha que já não tem mais cores por detrás. E lembro do seu olhar na cozinha descascando amendoim. Num dia em que por algum motivo se decidiu tostar amendoins. Numa casa onde nem se gostava tanto assim de amendoim. E eu sinto uma saudade tão grande de você que me faz sorrir um pouco. Porque apesar de eu detestar os domingos no interior, eu gostei muito de você. E então eu começo a gostar de uma coisa que eu não gosto. Sem entender. E sem querer entender.

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